São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996
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Os transplantes de rim

JOSÉ CAROLINO DIVINO FILHO

Os transplantes renais não aumentam no Brasil não por culpa dos nefrologistas; na verdade, esse é um objetivo de todos nós que trabalhamos em nefrologia.
As diferentes formas de diálise são tratamentos alternativos para aqueles que esperam por um transplante renal, uma sustentação da vida para aqueles que não têm a possibilidade de um transplante renal e uma certeza de vida para aqueles cujos transplantes renais desenvolvem uma rejeição aguda ou crônica. Seria uma função, entre outras do SUS, criar mecanismos capazes de tornar esse procedimento viável em todo o país. Hoje, os centros fora dos grandes centros de transplantes são regidos pelo desprendimento e pela abnegação de um grupo de pessoas mais ou menos idealistas.
O essencial da hemodiálise é que ela funciona graças aos diversos centros privados que existem no país. É claro que existem exceções à regra, e são essas exceções que são publicadas nos meios de comunicação... A grande maioria dos nefrologistas brasileiros luta com muita adversidade para dar aos seus pacientes um tratamento adequado e consegue.
Gostaria de convidar o colega Jorge Darze ("Hemodiálise e transplante renal", Folha, 22/11) a fazer uma visita ao serviço de hemodiálise em que trabalho aqui em Estocolmo. É o primeiro centro privado de diálise na Suécia, funcionando há sete anos, e depois de nós já surgiram mais três. A existência desses centros foi motivada pela incapacidade da rede pública de absorver o número crescente de pacientes necessitando de diálise. Posso afirmar que nós prestamos um serviço à comunidade que sai mais barato do que o prestado pela rede pública.
Recentemente, foi publicado o resultado de um trabalho onde compararam-se os custos de um serviço de atendimento ambulatorial clínico privado (tipo PAS) com o público. O resultado foi uma ducha de água fria para os social-democratas: é mais barato o setor privado do que o público. O público, como já diz a palavra, é do público, e muito poucos se importam em geri-lo de uma forma eficiente, honesta e direta.
Usem o dinheiro público para melhorar a rede básica, agilizem o repasse do dinheiro do SUS dos municípios para os hospitais contratados, punam os idealizadores de superfaturamentos nas compras dos órgãos públicos de saúde, inspecionem o repasse de dinheiro do SUS e, caro colega... você e a Federação trabalhem para que o médico tenha condição de trabalho adequada, com remuneração compatível com a responsabilidade e possibilidade de ter ensino continuado. Enquanto isso os hospitais privados, prestadores de serviço ao SUS, continuarão a fazer o que sempre procuraram fazer (com algumas exceções), que é tratar da saúde da população com os meios que lhe são possíveis.

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