São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Balança cria nervosismo

CELSO PINTO

Voltou o nervosismo dos mercados com as contas externas. A razão é a expectativa de um déficit comercial (exportações menos importações) de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões em dezembro.
Mais do que elevar o déficit comercial neste ano acima de US$ 5 bilhões, os números indicariam que as importações continuam vigorosas, depois de uma certa acomodação em novembro. O que poderia dar razão às projeções mais pessimistas de déficit em 97 e levar o governo a tomar medidas corretivas.
O nervosismo tem-se refletido no mercado futuro de câmbio, que subiu sem parar desde o início do mês. A cotação do dólar futuro de abril, que reflete a cotação esperada no final de março do próximo ano, tem sido, de longe, a mais negociada. A explicação é que a maioria das apostas continua sendo que, se o governo fizer alguma correção de rumos, provavelmente a fará no final do primeiro trimestre, supostamente depois da votação da reeleição (pelo menos o primeiro turno).
No dia 4 de dezembro, a cotação do real frente ao dólar no final de março estava em R$ 1,06165 no mercado futuro. No dia 22, a mesma cotação já estava em R$ 1,06550 e ontem chegou a R$ 1,0677 no fechamento.
A desvalorização embutida nessas cotações futuras é de 0,687% para este mês de dezembro, 0,925% em janeiro, 0,835% em fevereiro e 0,85% em março. Em quatro meses, a desvalorização embutida é de 3,33%, ou o equivalente a 14% ao ano.
Isso não quer dizer que o mercado está prevendo exatamente esse nível de desvalorização para os próximos meses. O salto nas cotações reflete a força da procura de quem quer comprar dólares nos próximos meses e o prêmio que tem que pagar para isso.
A procura por dólares acontece, na maioria dos casos, porque um banco ou uma empresa quer cobrir uma posição em dólares. Ou seja, ele tem um compromisso em dólares no futuro maior do que a receita em dólares. Se o governo mudar a política cambial e houver uma desvalorização mais forte, esse banco ou empresa acabará tomando um prejuízo. A compra de dólares futuros compensaria esse desequilíbrio e eliminaria o risco.
Dados do Banco Central citados por esta coluna no dia 10 de dezembro sugerem que a diferença entre o total dos passivos e ativos em dólares nos bancos comerciais e múltiplos no final de maio chegava a US$ 29 bilhões e superava seu patrimônio líquido de US$ 27 bilhões. O tamanho do número ajuda a explicar o tamanho do nervosismo com o comportamento das contas externas.
As previsões do déficit comercial de dezembro partem de um total de exportações em torno de US$ 3,7 bilhões a US$ 3,8 bilhões, numa extrapolação dos dados oficiais já divulgados para as três primeiras semanas. Em relação às importações, não há dados oficiais parciais.
Existe uma estimativa no mercado de que a média por dia útil das importações ficou em US$ 270 milhões na primeira quinzena de dezembro. Extrapolando para o mês, daria US$ 5,7 bilhões de importações e US$ 2 bilhões de déficit. Como, no entanto, é provável ter havido alguma desaceleração no final do ano, alguns estimam um total de US$ 5,3 bilhões.
Outra forma de calcular é olhar o fechamento de câmbio de importações no mês. As conclusões são parecidas. Faltando quatro dias úteis no mês, o total chegou a US$ 3,5 bilhões. Mantendo a mesma média por dia útil até o final do mês, o total iria a US$ 4,4 bilhões, mas a média deve cair um pouco.
Estimando um total de US$ 4,2 bilhões para o câmbio de importação, é possível projetar o total de importações físicas. O câmbio reflete apenas as importações não financiadas. Em média, as importações físicas têm ficado 25% acima do fechamento de câmbio. Nesse caso, o total de importações iria a US$ 5,2 bilhões a US$ 5,3 bilhões e o déficit para US$ 1,5 bilhão.
Mais importante do que acertar exatamente a projeção do déficit será ver sua composição. Dezembro sempre foi um mês pressionado pelas importações de bens de capital. Será preciso conferir se foi essa a razão para a pressão no mês, ou se a tendência foi mais geral.

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