São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996 |
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Pai é o Sol; mãe é a Lua
ARMANDO ANTENORE
"Faz uns três anos. Ele entrou no restaurante usando terno e carregando mais dois em um cabide. Parecia o senador Suplicy." Vieira achou que se tratava de um cliente. Foi atendê-lo, mas o bailarino logo avisou: "Estou sem dinheiro. Só quero um pedaço de pizza". O dono do restaurante ouviu e autorizou que lhe dessem comida. Depois, comentou: "Em que mundo vivemos? Tem gente pedindo até de paletó". Desde então, Sette aparece quase todas as noites. "É muito humilde e não perturba", descreve Vieira. "Fica na porta, observando. Se fazemos um sinal de positivo, ele sabe que pode esperar porque vai ganhar pizza." O garçom diz que, de início, o bailarino conversava um pouco. Hoje, prefere o silêncio. "Chegou a me contar que já teve luxo, que estudou inglês, que dançava e que morou nos Estados Unidos. Nunca duvidei. Dá para perceber que é uma pessoa de fino trato", relata Vieira. Ninguém da pizzaria sabe por que Sette está nas ruas. "Uma vez", recorda o garçom, "ele mencionou que perdeu o emprego, que os amigos o abandonaram e que as portas se fecharam." Vieira aproveitou para lhe perguntar se possuía família. "Não", respondeu contrariado. "Meu pai é o sol. Minha mãe é a lua." (AA) Texto Anterior: Espetáculo propõe solidariedade Próximo Texto: Sette procurou psiquiatras Índice |
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