São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Pai é o Sol; mãe é a Lua

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O garçom Antonio Nunes Vieira, 42, que trabalha numa pizzaria dos Jardins, lembra bem da noite em que Jairo Sette surgiu por ali.
"Faz uns três anos. Ele entrou no restaurante usando terno e carregando mais dois em um cabide. Parecia o senador Suplicy."
Vieira achou que se tratava de um cliente. Foi atendê-lo, mas o bailarino logo avisou: "Estou sem dinheiro. Só quero um pedaço de pizza".
O dono do restaurante ouviu e autorizou que lhe dessem comida. Depois, comentou: "Em que mundo vivemos? Tem gente pedindo até de paletó".
Desde então, Sette aparece quase todas as noites. "É muito humilde e não perturba", descreve Vieira. "Fica na porta, observando. Se fazemos um sinal de positivo, ele sabe que pode esperar porque vai ganhar pizza."
O garçom diz que, de início, o bailarino conversava um pouco. Hoje, prefere o silêncio.
"Chegou a me contar que já teve luxo, que estudou inglês, que dançava e que morou nos Estados Unidos. Nunca duvidei. Dá para perceber que é uma pessoa de fino trato", relata Vieira.
Ninguém da pizzaria sabe por que Sette está nas ruas. "Uma vez", recorda o garçom, "ele mencionou que perdeu o emprego, que os amigos o abandonaram e que as portas se fecharam."
Vieira aproveitou para lhe perguntar se possuía família. "Não", respondeu contrariado. "Meu pai é o sol. Minha mãe é a lua."
(AA)

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