São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Seca obriga paraibanos a consumir água lamacenta

DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUAZEIRINHO E SOLEDADE (PB)

Os moradores da zona rural de Juazeirinho e Soledade, no interior da Paraíba, são obrigados a beber água lamacenta por causa da seca.
A maioria dos açudes, poços e cacimbas secou completamente nos dois municípios. Em alguns açudes, só resta água apodrecida, disputada por pessoas e animais.
Segundo dados do governo estadual e da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), a seca atinge pelo menos outros 42 municípios do interior do Estado.
Quem mora na zona rural de Juazeirinho e Soledade percorre até dez quilômetros para comprar água nas cidades. Muita gente está abandonando as zonas rurais pelas urbanas devido a esse problema.
Em Soledade, para poder beber a água esverdeada do açude dos Negrinhos, algumas pessoas usam cal e cimento para tratá-la. Elas misturam os dois produtos à água e esperam meia hora, até que a lama baixe, deixando-a transparente.
Depois, a água é utilizada para beber, tomar banho e preparar as refeições. "Para transformar 200 litros de lama em água são necessários 10 kg de sal e 5 kg de cimento", diz o agricultor Cícero Vicente de Sousa, 38.
Em Juazeirinho, o resto de água barrenta e podre do açude do sítio Mendonça é utilizado para consumo por pelo menos 40 famílias -cerca 200 pessoas. É a única fonte de água existente na região.
Na zona urbana das duas cidades, o fornecimento de água pelo governo estadual é feito por três vagões de um trem da RFFSA (Rede Ferroviária Federal).
Duas vezes por semana, o trem deixa 168 mil litros nas duas cidades, para atender cerca de 25.300 habitantes -6,64 litros de água por pessoa, em média. A água vai de João Pessoa para o local.
Caminhões-pipa das prefeituras pegam a água nos vagões e distribuem para a população nos bairros. Cada pessoa só tem direito a quatro latas (20 litros).
As prefeituras também mandam caminhões-pipa buscarem água em Taperoá, a 65 quilômetros.
As filas nos locais de distribuição começam às 19h, todos os dias. A distribuição começa a partir das 5h do dia seguinte. Os caminhões-pipa não chegam à zona rural.
Quem não consegue encher suas latas nos caminhões ou quiser mais água tem de comprar. Cada lata de 20 litros custa R$ 0,25.
Segundo Maria Aparecida Pires de Almeida, médica do hospital de Soledade, o consumo de água mal tratada pode causar febre tifóide, diarréia, lesões de pele, cólera, anemia, desnutrição e parasitoses.
Ela diz que casos de febre tifóide têm aumentado em Soledade.

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