São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Testemunhas são disputadas

DA REPORTAGEM LOCAL

O Internal Revenue Service e o Banco Riggs disputaram durante meses a contratação de advogados e de ex-funcionários do governo brasileiro para testemunhar no processo de US$ 1 bilhão que travam entre si na Justiça dos EUA.
Sérgio Tostes e Paulo Bekin, dois advogados especializados em direito empresarial, foram contratados pelo IRS.
Tostes mostrou à Justiça dos EUA uma série de decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) determinando que o BC (Banco Central) não poderia pagar impostos porque tinha imunidade tributária.
"O governo brasileiro tentou driblar a imunidade do BC para fechar um acordo com os bancos credores. Fizeram um parecer com essa finalidade, mas ele é obviamente inconstitucional", disse Tostes.
O fisco norte-americano contratou também o economista Celso Martone e dois ex-executivos do Citibank, que confirmaram a importância dos recibos de impostos nas negociações entre o governo brasileiro e os bancos credores.
Um deles, Alexandre Leite, atestou na Justiça que "telefonou várias vezes" para as autoridades brasileiras solicitando a concessão de recibos de impostos.
Segundo Leite, desde 1979 o Citibank pedia ao governo a concessão de recibos na remessa de juros, mas as autoridades brasileiras argumentavam que a medida seria ilegal.
Segundo o governo brasileiro, o BC só poderia pagar o imposto se descontasse seu valor do montante dos juros remetidos.
Caso contrário, estaria arcando com um imposto ilegalmente, já que o BC é imune.
Leite disse que a reviravolta do governo, ocorrida em 1984, foi produto da difícil fase em que o Brasil se encontrava.
O Riggs foi mais ousado na contratação de especialistas. Levou para testemunhar a seu favor José Luiz Bulhões Pedreira, um dos maiores juristas do país, e o ex-secretário da Receita Federal Eivany Antônio da Silva.
Eivany era um dos autores do parecer que autorizou a concessão de recibos para os bancos credores.
Segundo ele, o parecer não tentou driblar a imunidade do BC, já que o órgão não era o titular do imposto.
"O BC estava apenas adiantando um tributo que era da obrigação dos bancos credores. Mas, infelizmente, a Justiça não entendeu dessa forma", disse ele à Folha.

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