São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Juros das aplicações caem 20% em 1996

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Tanto os juros nominais quanto os reais -acima da inflação- das aplicações financeiras caíram em 96, em relação a 95, mas ainda estão longe de padrões civilizados.
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário), parâmetro dos juros das aplicações, recuou 20,5%. Foi a 53,21% nominais em 95, e deve fechar este ano em 27,10%.
O rendimento nominal da poupança encolheu 20,1%, passando de 39,74% para 16,34%, tendo por base as contas do dia 1º.
Os fundos de renda fixa DI -os de 60 dias neste ano- renderam menos 20,6% entre 95 e 96, na média deles, considerando a taxa líquida de Imposto de Renda.
Com exceção da poupança, isenta de IR, a rentabilidade das aplicações foi proporcionalmente menor neste ano, em relação ao CDI, porque a tributação sobre o rendimento pulou de 10% para 15%.
Ganho real
Os juros acima da inflação também declinaram em 96. No caso do CDI, baixou de 24,40% para 15,55% se a referência for o IPC da Fipe estimado em 10%, e de 32,94% para 16,39%, sobre o IGP-M de 9,20% já fechado.
A remuneração real do investidor em renda fixa, entretanto, continuou atraente.
Alguém com cacife para obter as taxas mais altas do CDB (Certificado de Depósito Bancário) prefixado conseguirá, neste ano, remunerar seu capital em 12,1% sobre a inflação medida pelo IGP-M, descontado o imposto retido na fonte.
Perto do resultado de 95, cerca de 26%, o ganho real de 96 pode ser considerado decepcionante. Um investidor norte-americano, entretanto, levaria uns quatro ou cinco anos para obter o rendimento de 12% em juros sobre a inflação daquele país.
Nessa comparação considera-se bônus de longo prazo do Tesouro que pague, nos EUA, algo em torno de 6% ao ano, contra inflação de 2,5% a 3%. CDB vendido a um investidor médio norte-americano tem taxa mais baixa, de 3% a 4% ao ano. A remuneração da poupança mal cobre a inflação.
Aqui, um simples depositante em caderneta terá remuneração real, em apenas um ano, equivalente à taxa nominal de grandes investidores em renda fixa nos EUA.
A poupança com "aniversários" no dia 1º vai render, neste ano, 16,34% nominais, o que representa 6,54% sobre o IGP-M (índice geral de inflação), e 5,77% sobre um IPC da Fipe (preços ao consumidor em São Paulo) de 10%.
Mesmo isenta de IR, a rentabilidade da poupança foi bem menor do que nas outras aplicações porque, no acumulado do ano, pesa muito o achatamento sofrido no primeiro semestre, quando o redutor da TR ficou fixo em 1,3%.
Neste final do ano, com o redutor em 0,85%, a caderneta está parelha até com os fundos de 60 dias, e bem mais próxima do CDB de grande investidor. Em janeiro o redutor sobe para 0,97%, e a partir de fevereiro estaciona em 0,95%, porém ainda distante de 1,3%.
Índices convergem
Como em 95 o Plano Real ainda estava numa fase de acomodação de preços, índices restritos ao varejo e muito influenciados pelo item serviços -caso do IPC da Fipe- se descolaram dos mais amplos, tipo IGP, que medem também os preços no atacado.
Agora está mais fácil apurar o ganho real das aplicações financeiras. A diferença entre o IPC da Fipe e a dupla IGP e IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas, ficará próxima de um ponto percentual.
Trabalhando com 10% para a inflação o investidor chegará perto do ganho real que obteve em 96.
Fundos
Quem aplicou dinheiro em fundos de renda fixa de 60 dias, por exemplo, pode ter obtido 21,60% líquidos de imposto, acumulando um ganho real entre 10,55% (sobre o IPC-Fipe) e 11,36% (IGP-M) no ano.
Os cálculos consideraram a rentabilidade média desses fundos. No limite, se um fundo rendeu 100% do CDI, a rentabilidade líquida de imposto ficou perto de 23%, e a real, entre 11,8% e 12,6%.
Na indústria de fundos foram observados rendimentos brutos de 30%, 40% e até 100% neste ano, mas tratam-se de investimentos com certa dose de risco. São fundos agressivos, que operam nos mercados futuros. Dão lucro -às vezes concentrado num ou poucos meses- e também prejuízo.
Os fundos de curto prazo, que tendem a desaparecer com a combinação CPMF/juro nominal mais baixo em 97, nem sequer cobriram a inflação.
Ativos de risco
As Bolsas, que amargaram forte prejuízo real em 95, reagiram.
O Índice Bovespa, carteira teórica fortemente influenciada por papéis de estatais, como Telebrás, deve fechar 96 com ganho próximo a 50% sobre a inflação.
No ano passado, ainda considerando a evolução do Índice Bovespa, o prejuízo real ficou entre 14,33% (IGP-M) e 19,83% (IPC da Fipe).
O balanço de dois anos mostra lucro com ações, porém inferior à rentabilidade obtida com juros. O CDI acumulou algo em torno de 55% reais em 95/96, sobre o IGP-M, contra menos de 30% do Índice da Bolsa paulista.
O dólar se recuperou neste ano, acompanhando mais de perto a inflação. Ainda assim o comercial ficará levemente abaixo do IGP-M. Deve perder até dos 7,91% do IPA (preços no atacado) que integra o IGP-M.
O "black", com o arranque deste fim de ano, até ganha raspando da inflação. Mas nem de longe compara-se ao que oferecem os juros, e, pior, com risco de queda logo no início de janeiro.

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