São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Final de ano

Final de ano
OSIRIS LOPES FILHO

OSIRIS LOPES FILHO
FINAL DE ANO TRAZ CONVITE PARA BALANÇO.

O ano que se finda, no ponto de vista do contribuinte, foi decepcionante. Esperou-se, como sempre, uma reforma tributária racional, modernizadora, que diminuísse a carga tributária e a repartisse melhor, baseada na efetiva capacidade contributiva do cidadão.
O que se teve foi uma mistura cruel de atacado e varejo a fustigar o bolso dos contribuintes, variando de medidas provisórias que se eternizaram a novas leis cujo sentido tem sido o de criar ou elevar o ônus tributário.
A esperança sadia de diminuição da carga tributária, de redução do número de incidências, de alívio das chamadas obrigações acessórias -que tanto infernizam a vidas das empresas-, de simplificação das exigências tributárias, vão restar como material a ser utilizado para novas promessas de uma reforma tributária que mude o panorama do país, em que quem sustenta efetivamente a estrutura estatal, via impostos e contribuições, é a classe trabalhadora e a classe média -o povão.
Foi um ano triste. Mostrou que o modelo de alterações tributárias não se modifica. Muda-se a norma, sempre para elevar os impostos de quem já os vem pagando corretamente.
Ao evasor garante-se a impunidade, por falta de investimento na administração tributária, ainda situada na idade da pedra polida, num mundo caracterizado por sonegação de nível estratosférico e péssimos exemplos de aplicação de recursos estatais, como o Proer, a beneficiar banqueiros, em acintosa provocação à miséria intocada de 30 milhões de irmãos brasileiros.
O frango e, agora, a última novidade -o iogurte- estão presentes no consumo do povo apenas na lábia da insensibilidade social do presidente da República e no marketing oficial.
A agenda governamental de mudança promete felicidade. Felicidade para o presidente da República, em transição triunfal para a monarquia.
Seus paradigmas na empreitada da reforma constitucional para a reeleição são Menem, da convulsionada e decadente Argentina, e Fujimori, de um Peru em que a revolta armada ressurge espetacular com o movimento Tupac Amaru.
A nossa esperança de paz é a de que a Argentina e o Peru sejam exemplos apenas para o Presidente, e não empolguem os excluídos e espoliados do nosso Brasil.

Osiris de Azevedo Lopes Filho, 57, advogado, é professor de Direito Tributário e Financeiro da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal.

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