São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996 |
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1996, o ano que não acabou
LUÍS NASSIF No bojo das profundas transformações consolidadas em 1996, na opinião do colunista, estes foram os fatos mais relevantes:No plano político: * Início da apuração eletrônica, reduzindo as fraudes eleitorais, e enterrando a República Velha. * Definição de um modo de ação das esquerdas, frente à globalização, a partir dos estudos de Tarso Genro e outros ideólogos. * O ocaso das últimas lideranças do populismo tradicional, como Brizola, Quércia e Arraes. No plano federativo: * Fortalecimento do federalismo, a partir das experiências inovadoras de Minas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. * Nesses Estados, a redefinição do papel das entidades empresariais, que passam a atuar como agentes de desenvolvimento. * Retomada dos investimentos da indústria automobilística, fora do ABC, consolidando o novo paradigma brasileiro, de descentralização do desenvolvimento. * Início da recuperação do Rio de Janeiro para a economia formal, a partir de investimentos no setor portuário. * Consolidação do Nordeste como novo polo de indústrias intensivas de mão-de-obra. * Fortalecimento das relações do Brasil com os parceiros do Mercosul, e montagem de estratégias dos Estados do Sul para tratar comercialmente com os parceiros. Na gestão pública: * Confirmação da qualidade total como método gerencial por excelência dos setores público e privado brasileiros. * Valores gerenciais sendo levados em conta nas eleições de novos prefeitos. No plano empresarial: * Definição de novas maneiras de atuação de pequenas e médias empresas do interior, unindo-se para constituir centrais de compra e de comercialização. * Aceleração da modernização do campo, convivendo com a mais drástica crise da agricultura nas últimas décadas. * Início dos programas de recuperação de setores afetados pela abertura da economia. * Consolidação do Conselho Administrativo de Direito Econômico como órgão de controle dos abusos de poder econômico. No plano sócio-cultural: * Início do boom da música popular brasileira e de sua aceitação como bandeira do Brasil na luta da globalização. * Consolidação da ecologia como valor cultural fundamental. Promessas não cumpridas: * Incapacidade das autoridades monetárias de diluírem a inadimplência da economia. * Início da reforma do Judiciário, enfaticamente anunciada pelo novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, e que não resultou em nenhuma ação visível até agora. * Início da reforma administrativa, que não conseguiu sair das formulações teóricas. * Demora em se acelerar a municipalização da saúde. * Reforma fiscal e previdenciária. * Incapacidade do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) de formular uma política antidumping eficiente. * Políticas do açúcar e do café do MICT. A primeira, trazendo indícios veementes de advocacia administrativa; a segunda, ressuscitando práticas corporativistas que se julgavam extintas. Os construtores Nos EUA, a música popular é fundamental na consolidação da cidadania, na ação diplomática e como setor econômico. No Brasil, onde proporcionalmente é muito mais expressiva, só agora a música popular começa a ser entendida como pilar da formação de uma cultura. Só isso explica o descaso com que foi tratada a morte de elementos essenciais na formação a música brasileira. Entendendo que a MPB é muito mais do que entretenimento, a coluna toma a liberdade de homenagear alguns dos grandes nomes desaparecidos neste ano: Laurindo de Almeida - violonista que foi para os EUA nos anos 50 e tornou-se o principal responsável pela popularização da escola de violão brasileira. Luiz Antônio - autor de "Barracão" e "Lata D'Água". Nome fundamental na música brasileira dos anos 50 e 60. Manoel da Conceição - o "Mão de Vaca", violonista da escola da rádio Nacional, com reputação mundial nos anos 60 e 70. Fernando Lobo - não só compositor dos mais completos, como animador cultural dos mais importantes, como carreira em rádio e televisão até o final da vida. João do Vale - depois de Luiz Gonzaga, um dos mais expressivos nomes do baião. Nássara: nome fundamental na música e caricatura brasileiras. Que Deus dê longa vida aos pioneiros ainda vivos, como Caymmi, Braguinha, Zé do Norte, Klécius Caldas e Paulo Soledade, entre outros. Folga Até o próximo dia 6 a coluna dá uma folga a seus leitores. Texto Anterior: Acordo na OMC deixa muito no ar Próximo Texto: Globalização e inserção nacional Índice |
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