São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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O futebol entra de cambulhada no Paulista-97

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não adianta mesmo. Entra ano, sai ano, e os nossos incorrigíveis cartolas seguem repetindo eternos erros.
Pegue-se o exemplo da fórmula do próximo Paulista, que vem todo taful (no dizer do poetastro) num figurino pretensamente moderno. Despencam rendas, laços e babados do que deveria ser um simples jeans de grife, macio, solto, leve e de caimento impecável. Teremos shows musicais -quem sabe, a loura do tchan, hein?, já pensou a galera? Talvez, sorteios de carros, pebolins, chaveiros e miniaturas do Latininho do Faustão.
Enfim, todos esses penduricalhos que balançam no vácuo que se forma sob a cartola dos nossos dirigentes na hora de pensar o futebol. Claro que, em meio a esse alarido todo, que chamam de marketing, rola grana aqui e ali, certamente mais ali do que aqui.
Mas, antes de avançar nesse caminho, paro e aviso: sem dúvida, será um campeonato mais rentável e empolgante do que aquele estafermo Brasileiro que acabamos de embalar. Ou menos deficitário e tedioso, para ser mais exato.
E o futebol, propriamente dito, esse, sim, o espetáculo que o torcedor compra e aspira? Ah, o futebol... Esse entra de cambulhada no pacote.
Sim, porque vamos pegar o Duda Mendonça, o marqueteiro top da política, o alquimista capaz de transformar pedra em ouro, como dizem. Então, pedimos a ele para examinar a tal fórmula mágica do Paulistão futuro. E ele dirá: cadê o futebol?
O futebol é o produto que deve ser valorizado, bem embalado, e oferecido de forma inteligente e positiva ao consumidor. O resto é enfeite, de resultado e gosto duvidosos.
Mas como fazer isso? De cara, privilegiando o vencedor. Aquele que vencer soma méritos, pontos, louros, para chegar ao título. Ao perdedor, nem as batatas.
Concordo, por exemplo, com o presidente Farah, quando ele diz que campeonato de pontos corridos é ótimo para os europeus, não necessariamente para nós. Sobretudo, num campeonato estadual como o Paulista. É preciso que haja disputas eletrizantes, um novelo, ou novela, se preferirem, capaz de manter o torcedor ligado no desenrolar do torneio.
Assim, que se divida o número de participantes em quatro grupos de quatro times, por exemplo, em rodízio por sorteio ou direcionado, não importa, de turno para turno. Em cada três rodadas, teremos quatro campeões de grupo que disputarão entre si o título do turno, do returno, do "triturno" e assim por diante, até que os campeões dos turnos decidam o título. Só tem campeão na parada, nada de vice ou outro jeitinho qualquer que sempre se ajeita para dar um jeito no que não tem jeito mesmo.
*
O Corinthians já tem Romeu, e não me venham com a insídia brega de que agora só falta a Julieta, embora alguns Iagos deslizem pelas alamedas sombrias do Parque.
O que falta mesmo é um sir William para dar sentido a essa história cujo final já conhecemos de cor e salteado.
*
Telê entrou por uma porta, Elivélton escafedeu-se pela outra. E foi parar lá no terreiro do Galo.

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