São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Efeito é parecido aos da maconha e do sexo

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A ciência resolveu "comer" chocolate. Nos últimos anos, uma série de pesquisas tem mostrado que o chocolate não é apenas gostoso. É capaz de provocar efeitos semelhantes ao do orgasmo e da maconha. Outros estudos afirmam que o chocolate pode fazer mais ao organismo do que fornecer energia e calorias: contém substâncias antioxidantes, que ajudam a evitar problemas cardíacos.
Na semana passada, pesquisadores da Universidade Middlesex (Reino Unido) anunciaram que o cheiro do chocolate acalma.
O estudo, apresentado no encontro da Sociedade Psicológica Britânica, foi divulgado na revista "New Scientist".
Os cientistas colocaram 60 voluntários em uma sala livre de outros cheiros, trajados com óculos escuros e fones de ouvido a fim de impedir que estivessem sujeitos a outros estímulos.
Ligados a um eletroencefalograma, os voluntários tiveram de "experimentar" vários cheiros, como café, leitão, morango etc.
Só o cheiro do chocolate foi capaz de reduzir as ondas cerebrais chamadas teta (de 2,6 microvolts para 1,8 microvolts), ligadas ao estado de alerta e atenção.
Maconha
A descoberta de uma substância no chocolate talvez possa explicar por que algumas pessoas tornam-se dependentes do produto.
Cientistas do Instituto de Neurociência, em San Diego, detectaram a presença, no chocolate em pó e em barra, de uma substância que imita o efeito da maconha no cérebro, a n-aciletanolamina.
Segundo Daniele Piomelli, autora do estudo, a n-aciletanolamina age como o princípio ativo da maconha, o THC. Ambos ativam os receptores canabinóides existentes na face externa das células cerebrais. Receptores celulares podem ser comparados a um atracadouro, onde vão ser amarradas as embarcações (o THC ou a aciletanoamina). O resultado dessa interação é a mudança das propriedades elétricas das células nervosas. Assim, o que há é a alteração do próprio funcionamento do cérebro.
Ratos "alterados" tornam-se menos ativos e sentem menos dor. Os efeitos no homem são opostos: tornam-se eufóricos e mais "esquecidos".
Os cientistas também descobriram que a aciletanoamina é capaz de inibir a degradação de um lipídio cerebral -a anandamina- que também age como o THC.
Ela afirmou que os altos níveis de anandamina, ligados a outras substâncias presentes no chocolate, como a cafeína, são responsáveis pela sensação de bem-estar que se experimenta ao comê-lo.
Outros estudos também apontam os efeitos estimulantes do chocolate. Segundo John Harwood, bioquímico da Universidade College de Wales, cada 100 g de chocolate contém 5 mg de metil-xantina e 160 mg de teobromina. Ambas as substâncias são semelhantes, em efeito, a cafeína.
Orgasmo
Alguns pesquisadores dizem, por outro lado, que talvez não seja coincidência o fato de haver tantos amantes do chocolate ("chocolovers").
Para eles, há uma explicação científica. O chocolate pode ser um substituto do sexo. Cada 100 g de chocolate contém mais de 660 mg de feniletilamina (PEA), um estimulante muito parecido com estimulantes produzidos naturalmente pelo organismo: a dopamina e a adrenalina.
Ambos causam aumento da pressão sanguínea, batimentos cardíacos e os níveis de glicose sanguínea. Segundo eles, isso induziria um tipo similar, se não em intensidade, do clímax sexual. O PEA é chamado de a "droga do amor".
Antioxidante
Chocolates também contêm substâncias antioxidantes, de acordo com estudo publicado na revista médica "The Lancet".
Um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriu que um copo de chocolate quente -cerca de 7,3 g de cacau- chega a conter 146 mg de fenóis, substâncias que ajudam a evitar a oxidação do mau colesterol (LDL), reação química que aumenta a probabilidade de o mau colesterol grudar nas paredes das artérias.
Os cientistas afirmam que o chocolate em pó é capaz de inibir em 75% a oxidação do colesterol.
Cientistas da Universidade de Alberta (Canadá) descobriram também que o chocolate também pode salvar vidas. O produto pode ajudar a combater a hipotermia, estado caracterizado pela queda de 2°C da temperatura do coração.
Voluntários foram colocados em uma sala com temperatura ambiente entre 8°C e 10°C negativos, vestidos apenas com shorts e camisetas.
O grupo que comeu chocolate apresentou uma queda de temperatura de menos de 0,5° C, enquanto o grupo que não o fez ficou 1°C mais frio.

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