São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Repressão afeta mulheres

DA REDAÇÃO

O mulá Muhamad Omar enxerga pouco. Não por ter perdido um olho nas guerrilhas contra as tropas soviéticas. Omar lidera 25 mil milicianos que consideram os banhos públicos femininos incompatíveis com a religião islâmica e acham que os adúlteros devem ser mortos a pedradas (costume praticamente extinto no país desde o fim da Segunda Guerra Mundial).
O Taleban apareceu em 1994, uma reunião de pouco mais de mil estudantes de escolas religiosas rurais na fronteira com o Paquistão. São tidos como camponeses rudes e fundamentalistas -isto é, que interpretam literalmente preceitos de mais de mil anos (como sauditas e iranianos, por exemplo).
Suas primeiras medidas foram enforcar o ex-presidente Muhamed Najibulah (repressor feroz), destruir as estações de TV e reduzir as mulheres à minoridade ou à prisão domiciliar.
Até que as escolas e escritórios estejam preparados para recebê-las de acordo com os preceitos da lei islâmica -segundo a interpretação taleban-, as mulheres não podem estudar ou trabalhar (antes da chegada do Taleban ao poder, existiam dois meninos para cada menina nas escolas primárias). Elas não podem sair à rua sem os maridos. Não podem mostrar quase nada de seus corpos.
Apesar de terem regulado até o tamanho da barba de seus funcionários públicos, correspondentes ocidentais dizem que os milicianos estudantes do Corão conseguem recursos fazendo vista grossa para o tráfico de ópio e heroína -o país lidera a exportação dessas drogas.
Vêm perdendo batalhas desde que tomaram o poder. As derrotas são impostas principalmente pelos uzbeques, que dominam o norte do país, onde pretendem explorar reservas minerais (petróleo inclusive) intocadas. Os recursos da região, nos quais os russos se dizem claramente interessados, devem fazer com que uma guerra muito moderna continue no país aparentemente medieval dos talebans.

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