São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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AFEGANISTÃO

DA REDAÇÃO

Os guerrilheiros do Taleban, milícia que desde setembro governa a capital e pouco mais da metade do Afeganistão, são acusados de levar o país de volta à Idade Média com sua política fundamentalista islâmica. Cassaram direitos femininos, o direito à informação, implantaram uma polícia de costumes. A Justiça é administrada com facões para quem furta, forca e apedrejamentos para adúlteros.
No entanto, Idade Média é um conceito estranho à história das civilizações islâmicas -é um conceito ocidental. Ligadas à história ocidental, mas do século 20, estiveram a sucessão de golpes e a guerra civil contínua que tomou conta do país desde a queda da monarquia afegã, em 1973: o Afeganistão era parte periférica da Guerra Fria, que opôs EUA e URSS por mais de 40 anos.
Não que a metáfora medieval não se aplique ao Afeganistão. É um dos mais pobres do mundo, com Produto Interno Bruto (soma das riquezas produzidas pelo país) per capita de US$ 276. Metade da renda vem do campo, onde mora igualmente metade da população. Cerca de 90% das mulheres são analfabetas (contra 56% dos homens), e, em média, cada afegão não vive mais de 39 anos.
Mas suas guerras são bem modernas. O país começou a se aproximar da URSS em 1953. Os soviéticos colocavam os vizinhos muçulmanos em sua órbita com ajuda para modernizar a economia afegã. O cúmulo da modernidade foi atingido no final de 1979, quando 80 mil soldados soviéticos invadiram o país para apoiar o regime comunista implantado em 1978.
Sob o governo do pró-soviético Muhamad Najibulah (1982-1986), as mulheres da capital, Cabul, se maquiavam e usavam jeans. Armas modernas americanas sustentavam grupos guerrilheiros tribais e tradicionalistas, os mujahidin, contra armas modernas soviéticas.
Apesar do fim da ajuda militar soviética e americana em 1991 e da vitória dos mujahidin em 1992, a guerra civil não terminou. Pioraram os conflitos entre os guerrilheiros das etnias pashtum (maioria no país), uzbeque e tadjique (à qual pertence o ex-presidente Burhannuddin Rabbani).
O Taleban (que significa estudiosos da religião ou do Corão, o livro sagrado islâmico) teve apoio da população ao prometer o fim da guerra civil. Até agora, começou uma guerra molecular contra os afegãos, e o país está praticamente desmembrado.

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