São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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O copo de FHC

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Menos mal que, em seu artigo de domingo para a Folha, o presidente Fernando Henrique Cardoso admite que "governar não é apenas estabilizar a economia".
Menos mal também que reconheça que os avanços de seus dois anos de governo foram "insuficientes".
Pena, no entanto, que, para esses dois parágrafos de realismo, haja previsíveis 14 de autolouvação.
Pena, também, que o conjunto de pesquisas que este jornal publicou domingo e ontem devam levar o presidente a embevecer-se na contemplação de sua "revolução silenciosa", pretensioso título que deu a seu artigo.
De vez em quando, gostaria de ser redator de diário oficial, para me permitir a louvação do que deve ser louvado, sem o trabalho de pensar e fuçar um pouco além da superfície.
O que as pesquisas revelam, acima de tudo, é que FHC ganha uma nota correspondente a sua "utopia possível". Apenas 6,5, insuficiente para ingressar no panteão dos grandes estadistas do século.
Revelam, igualmente, que o presidente frustra um de cada três otimistas. Afinal, eram 70% os que, antes da posse, esperavam dele uma gestão ótima/boa e, agora, são só 47% os que aplicam tais qualificativos à administração FHC.
De certa forma, os dois primeiros anos de FHC são a história do copo preenchido pela metade.
Os otimistas (ou conformistas) dirão que o copo está meio cheio e os pessimistas (ou realistas) acharão que está meio vazio. E ambas as visões estarão corretas.
Ainda bem que ele próprio reconhece que "governar é, antes de mais nada, promover a justiça, a igualdade de oportunidades, a distribuição de renda, a geração de emprego, melhorar a qualidade de vida e garantir a felicidade".
FHC tem mais dois anos (ou seis, mais provavelmente) para encher o copo. Basta seguir a sua própria receita do que é governar.

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