São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996 |
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Louvor à autoridade
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO - Compromisso à noite e perdi os telejornais de terça-feira. Na manhã de quarta, recebendo os jornais do dia, levei um susto dos diabos: "BC autoriza o aumento do dólar" foram as principais manchetes do Rio. Eu ignorara tanto e tamanho poder do nosso Banco Central. Mesmo sem entender de economia, e muito menos de política monetária e cambial, fiquei assustado.Sempre pensei que o dólar e outras moedas estrangeiras fossem independentes de nossas autoridades que, de acordo com o nome, autorizam as coisas. Ledo e ivo engano. Sem necessidade de guerra, de provocar um terremoto nas relações com os demais países, eis que o nosso Banco Central, que mal e porcamente cuida de nossa vida bancária cheia de abrolhos e escândalos, investiu-se de um poder que as nações soberanas, ou quase isso, não abrem mão. Ignoro até que ponto as desautorizadas autoridades americanas ficarão agradecidas ao nosso Banco Central por autorizar o aumento da moeda deles. Desde o final da última guerra que o dólar ficou substituindo o ouro e pelo menos há mais de dois séculos que quem manda no dólar são os próprios americanos. Aliás, se há bobeira na praça, eles apreciam mandar na moeda dos outros. Nunca se teve notícia, nesses dois últimos séculos, de que o dólar precisava de autorização alheia para valer o que geralmente vale. Bem, o nosso Banco Central pode argumentar que as manchetes dos jornais não foram obra sua, mas das redações e editorias. É possível. Não me dei ao respeito de ler a portaria sobre o assunto, fiquei sem saber se houve desvalorização do real ou valorização da moeda americana. De qualquer forma, ficou mais uma vez evidenciada a preocupação de certa parte da mídia em adubar a auto-estima do governo, que nem precisa disso para se auto-estimar. Do jeito como essa adubação está indo, ainda teremos manchete informando que o sol nasce todos os dias por autorização do Ministério da Defesa Ambiental. E que por soberana e nunca desmentida vontade presidencial a lei da gravidade continua em vigor. Texto Anterior: Duas CUTs Próximo Texto: O desemprego e o frango Índice |
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