São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Israel usa Síria para obter paz com árabes

Premiê israelense faz declaração em fórum na Suíça

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

As negociações em curso entre Israel e a Síria serão convertidas em uma negociação com o restante dos países árabes, em busca de uma paz abrangente para o Oriente Médio.
A informação foi dada pelo primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, em seu discurso de anteontem perante o Fórum Econômico Mundial, que se realiza em Davos (Suíça). O encontro prossegue até a próxima terça-feira.
Peres considera a decisão de estender o diálogo com a Síria ao restante do mundo árabe como "a questão mais importante" que os negociadores conseguiram fechar.
Na prática, trata-se de formalizar o óbvio. Israel já fez acordos de paz com todos os seus vizinhos, exceto Síria e Líbano.
Mas o Líbano é atualmente apenas um protetorado sírio, e um acordo com o governo do presidente Hafez Assad fatalmente se estenderá ao Líbano.
Feita a paz com os seus quatro vizinhos (os outros são Jordânia e Egito, sem mencionar os palestinos, por enquanto sem território próprio), não há razão para não estendê-la aos demais países árabes.
A exceção óbvia seria o Iraque, mas este está de quarentena mesmo no mundo árabe, depois de ter invadido o Kuait em 1990, para ser expulso por uma coalizão internacional de forças liderada pelos Estados Unidos (1991).
Peres só não fez previsões sobre quanto tempo será necessário para chegar ao acordo com a Síria, que fecharia em tese um ciclo da história do Oriente Médio.
Ou, como preferiu o premiê israelense, "será o fim da guerra na região". Peres limitou-se a dizer que as dificuldades, nas negociações, são "dificuldades no caminho da paz, não dificuldades no caminho da guerra".
As dificuldades, na prática, continuam as mesmas desde o início das negociações.
Israel quer um acordo sobre abertura de fronteiras, troca de embaixadores, comércio, turismo e livre fluxo de bens, serviços e pessoas, antes mesmo de começar a discussão sobre os passos da retirada israelense das colinas do Golã, ocupadas na guerra de 1967.
A Síria já aceitou o princípio de que a normalização começará antes da retirada, mas se recusa a comprometer-se com qualquer ritmo de normalização até que Israel aceite retirar-se para as fronteiras prévias a 1967 e remova todos os civis e soldados do Golã.
A negociação entre os dois países interessa diretamente aos palestinos, que temem perder um aliado importante nos seus próprios entendimentos com Israel em torno do futuro Estado palestino.
Ehud Yaari, editor da revista israelense "The Jerusalem Report", especializada na região, explica assim o interesse palestino:
"Um acordo com Hafez Assad permitiria a Israel fechar o círculo de arranjos abrangentes com o mundo árabe. E, nesse círculo, o poder de barganha dos palestinos será uma fração do que seria com Damasco servindo como foco de resistência para a paz."
Mas a idéia de que um acordo com a Síria seria automaticamente estendido aos demais países árabes não chega a ser consensual nem sequer no governo israelense.
Um dos chefes da inteligência israelense, o major-general Moshe Yaalon, em recente depoimento ao Parlamento, disse acreditar que os Estados do Golfo Pérsico e a Árabia Saudita poderiam impôr condições para entrar em acordo.
A principal delas, suspeita Yaalon, seria reivindicar a parte oriental de Jerusalém como capital do futuro Estado palestino.
Israel nega-se frontalmente a redividir essa cidade, que está completando 3.000 anos.
O país considera a cidade sua capital indivisível desde que conquistou a parte sob controle da Jordânia, também na Guerra dos Seis Dias.
Nesse ponto, não há divisões na sociedade israelense, ao contrário do que ocorre com a maioria dos outros itens relativos à questão palestina.

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