São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente de bloco afro critica "exemplo" de Michael Jackson

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Presidente de bloco afro critica "exemplo" de Michael Jackson
Antonio Carlos dos Santos diz que pop star renegou sua raça e é mau exemplo para a comunidade negra
O presidente do bloco afro Ilê-Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, disse ontem em Salvador (BA) que o cantor Michael Jackson não é um "bom exemplo de trabalho para a conscientização da cultura negra".
Mais conhecido como "vovô", Santos, que este ano é coordenador do Carnaval de Salvador, disse que o cantor Michael Jackson "renegou" a sua raça. "Ele era preto e fez de tudo para tornar-se branco", afirmou.
O cantor Michael Jackson deve gravar um clipe no próximo sábado com a participação de 200 integrantes da banda do Olodum.
Segundo Santos, a presença de Michael Jackson não desmerece o trabalho realizado pelo bloco Olodum. "O Olodum e o cantor são profissionais e sabem muito bem o que querem".
Vovô disse ainda que o cineasta Spike Lee -que vai dirigir as gravações- é muito mais importante para a cultura negra do que o cantor pop americano.
"Spike Lee nunca quis mudar de cor e sempre lutou pela igualdade dos direitos".
Segundo ele, a sociedade sempre mostrou que o branco é "mais capacitado" que o negro. "Parece que o Michael Jackson acredita neste absurdo", afirmou.
Anteontem pela manhã, o governador Paulo Souto (PFL), 52, disse que não concorda com interferências na gravação do musical. No Rio, onde também estão previstas tomadas, a Justiça proibiu por meio de uma liminar as gravações.
"A Bahia é uma terra com tanta tradição de liberdade que não aceita a hipótese de censura em qualquer manifestação artística", disse o governador.
Estudante
O cachê de R$ 150 que o estudante Jáder de Jesus Queiróz, 16, deve receber para participar das gravações do clipe de Michael Jackson equivale ao seu salário de um mês e meio como ajudante de um bar em Salvador (BA).
Quando o movimento do bar aumenta, o estudante recebe R$ 25,00 por semana. Mas quando o movimento é fraco, ele ganha R$ 15.
Nas horas vagas, Jáder ensaia com a banda mirim do Olodum, que vai participar das gravações do clipe de Jackson no próximo sábado, em Salvador.
Jáder mora com os pais e dois irmãos numa casa no bairro do Cabula (periferia da cidade).
"Não tive disco do Michael Jackson, mas sempre que ele aparece na televisão corro para assistir", afirmou.
Matriculado na 7ª série de uma escola pública, Jáder integra a banda mirim do Olodum há três anos. Ele toca tambor na última ala da banda. Os ensaios acontecem aos sábados, na quadra do Olodum (centro histórico da cidade).
"Por enquanto não recebo nada para tocar, mas estou tendo a oportunidade de conviver com excelentes músicos e isso é muito importante para a minha formação", afirmou.
Seu irmão Geilson Wildes de Jesus Queiróz, 11, também vai participar das gravações do clipe. "Vou aproveitar o cachê para comprar um disco de Michael Jackson e ajudar minha mãe", disse Geilson.

Texto Anterior: Ira! lança seu 7º disco com algumas diferenças e muitas semelhanças
Próximo Texto: Bienal deverá trazer gravuras de Goya
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.