São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Pacote Charly traz gravações de blueseiros inéditos

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É para deixar qualquer bluesmaníaco com água na boca. A gravadora Paradoxx acaba de lançar um pacote com mais 20 CDs da série "Blues Masterworks" -edição do selo britânico Charly.
No primeiro suplemento da série (também com 20 títulos, distribuído em setembro último), prevaleciam blueseiros mais conhecidos. Era o caso de John Lee Hooker, Muddy Waters e Buddy Guy, que voltam a aparecer no novo pacote ao lado de Bessie Smith, Elmore James e Champion Jack Dupree, entre outros (veja a relação de títulos nesta página).
Porém, para os fãs que gostam de novidades, a grande atração deste suplemento fica por conta de "bluesmen" menos populares, que nunca tinham sido editados aqui, como os guitarristas Fenton Robinson, Eddie Taylor e Magic Sam, os gaitistas Frank Frost e Billy Boy Arnold, ou os pianistas Eddie Boyd e Willie Mabon.
Fenton Robinson é um caso típico de talento menos reconhecido do que mereceria. Ótimo cantor e guitarrista, que une o "feeling" rural com a sofisticação do blues moderno, ele seguiu a trajetória-padrão de outros mestres.
Nascido no Mississippi, em 1935, Robinson mudou-se para o Tennessee, aos 18 anos, estabelecendo-se depois em Chicago, a grande capital do blues, em 1961. Foi ali que passou a trocar figurinhas com astros como Junior Wells e Sonny Boy Williamson.
O CD "Mellow Fellow" traz gravações bem mais recentes que a média da série, realizadas em Nashville (1970) e Memphis (1971). As 19 faixas incluem nove composições de Robinson, que exceto por "Somebody Loan Me a Dime" (gravada por Boz Scaggs e Duane Allman, em 1969) jamais chegou a emplacar um hit.
O gaitista Frank Frost também é exemplo de talento não premiado com popularidade. Discípulo de Sonny Boy Williamson 2º, de quem assimilou parte de seu estilo à gaita, Frost também tocava guitarra e compunha o próprio repertório -exibido em 16 das 18 faixas do CD "Jelly Roll King".
Outro gaitista dessa mesma geração é Billy Boy Arnold, um garoto-prodígio que chegou a tocar com Bo Diddley ainda na infância. Uma prova da personalidade de Arnold -natural de Chicago- está no fato de ele não seguir o estilo transformado quase em padrão local pelo mestre Muddy Waters.
Quem prefere o urbano e dançante "rhythm & blues" aos lamentos do blues rural, vai encontrar em Willie Mabon uma boa surpresa. Nascido em 1925, no Tennessee, Mabon é um cantor e pianista sofisticado, cujo estilo bem-humorado chega a lembrar o do mestre Louis Jordan.
Bem mais discreto é o cantor e pianista Eddie Boyd, "bluesman" do Mississippi que nos anos 60 acabou se radicando na Escandinávia. O CD "Third Degree", com gravações de 1951 a 1959, confirma as raízes rurais de Boyd, que prefere blues mais chorosos.
Já os fãs da guitarra certamente vão apreciar outros dois "bluesmen" pouco badalados. Morto por um ataque do coração, aos 32 anos, Magic Sam teve tempo de formular um estilo urbano e dançante, que enfatizava a guitarra.
Apelidado de Playboy graças a seu solitário hit "Big Town Playboy", além de ser bom cantor e guitarrista, Eddie Taylor ficou na história do blues como um acompanhante de primeira.
O que pode ser confirmado em "Bright Lights, Big City", álbum do cantor e gaitista Jimmy Reed (1925-1976), um bluesman original e cheio de swing que dividia com o álcool a paixão que tinha pelo "rhythm & blues".
Duas surpresas fazem parte do pacote. Guitar Junior -que assina o álbum "The Crawl"- esconde o hoje popular Lonnie Brooks, que decidiu mudar de nome nos anos 60. Já o CD "The Super Super Blues Band" reúne Muddy Waters, Howlin' Wolf, Bo Diddley, Little Walter e Buddy Guy. Uma constelação do blues.

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