São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Ecstasy pode danificar órgãos, diz pesquisa

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O uso prolongado da droga ecstasy pode destruir o fígado e danificar coração e cérebro, segundo estudo publicado na revista "Journal of Clinical Pathology".
O ecstasy, cujo princípio ativo é o MDMA (medilenodioximetanfetamina), provoca um estado de euforia e desinibição. Por isso, ficou conhecido como 'droga do amor'.
A euforia se deve ao aumento no nível de serotonina -substância que ajuda a comunicação entre as células nervosas- no sangue.
Pesquisadores da Universidade Sheffield (Reino Unido) examinaram os corpos de sete jovens com idades entre 20 anos e 25 anos que haviam morrido depois de ter tomado a droga.
Três dos jovens estudados haviam morrido durante uma "rave", grande festa musical que reúne centenas de pessoas.
Segundo eles, a autópsia mostrou mudanças "dramáticas" nos tecidos do fígado, que variavam de áreas parcialmente destruídas a mortas (necrosadas).
Três dos jovens estudados apresentavam dilatação nos vasos sanguíneos e danos nas células nervosas, os neurônios.
Em cinco dos sete casos analisados, houve danos semelhantes no coração. Segundo os cientistas, um dos jovens apresentou inchaço no cérebro como consequência da ingestão de 14 litros de água.
Segundo os pesquisadores, usuários da droga podem beber quantidades letais de água na tentativa de evitar a desidratação.
Além de provocar enrijecimento dos músculos e da aceleração dos batimentos cardíacos, a droga faz o corpo se aquecer, podendo haver desidratação. Segundo o estudo, os danos nos órgãos podem ser consequência do superquecimento.
Segundo Robert Forrest, um dos autores do estudo, todos os jovens tinham alto nível de ecstasy no sangue, o que sugere que a droga tenha causado os danos.
Para os pesquisadores, os resultados também mostram que os danos são consequência do princípio ativo da droga, também chamado metanfetamina, substância química derivada da anfetamina.
"Podemos ter exatamente a mesma coisa nos casos de overdose de cocaína", disse.
Segundo ele, "os riscos do uso a curto prazo começam a aparecer cada vez com mais frequência".
A metanfetamina, sintetizada pela primeira vez em 1914, era usada em psicoterapias e foi originalmente prescrita como um inibidor do apetite.
No ano passado, estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA) publicado na revista "Journal of Neuroscience" concluiu que o ecstasy, que leva à perda de inibição em quem o consome, também pode levar à depressão crônica.
Embora o estudo tenha sido feito em macacos, os pesquisadores disseram que os resultados poderiam ser aplicados no homem.
Por poder causar dependência, seu uso foi proibido em diversos países, inclusive no Brasil.

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