São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Aids: verdade x ilusão

ARTUR TIMERMAN

A importância da Aids como flagelo social desse fim de século é inquestionável; a extensão da epidemia em nossa comunidade, ao lado dos poucos recursos disponíveis para melhor tratar as pessoas acometidas, representam fatores que ajudam a criar toda uma ampla gama de mitos terapêuticos, que, de tempos em tempos, surgem como "curas milagrosas" (tipo chá chinês, vacinas japonesas, gotas solares indianas etc.). Quanto já se dispendeu de tempo e dinheiro com essas bobagens?
Paralelamente a essa mais rematada picaretagem, há notáveis progressos no combate contra o HIV. Novas drogas, da mesma família do AZT, vêm surgindo, sendo que já há quatro anos se sabe que a combinação de duas dessas drogas propicia bloqueio mais eficaz da replicação virótica, que pode atingir o índice de até 90% de redução da carga de vírus.
Com o início dos estudos clínicos com drogas pertencentes a outro grupo de antiviróticos (inibidores da protease), logo se evidenciou que esse índice de redução pode ser ainda mais expressivo, podendo atingir até a excepcional cifra de 99%. Todas as drogas pertencentes a essa família (saquinavir, ritonavir, indinavir e nalfinavir) associam-se a índices expressivos de redução na carga virótica.
No entanto, todos inibidores da protease, principalmente quando empregados isoladamente, podem levar ao desenvolvimento de resistência. Alguns deles (indinavir, principalmente) aparentemente têm maior chance de levar a tal ocorrência, que pode também ser compartilhada pelos outros membros desse grupo de drogas (isso é, caso se empregue o indinavir como monoterapia, há probabilidade de que se "queimem" os outros inibidores de protease nos pacientes inicialmente tratados com monoterapia). No 3º Congresso Americano sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizado em Washington, em janeiro de 1996, houve um Simpósio denominado "Como e Quando se Deve Empregar os Inibidores de Protease?" Uma das conclusões apresentada foi: evitar monoterapias.
Qual o motivo, então, que leva alguns dos nossos principais hospitais universitários a realizarem estudos onde o inibidor de protease é empregado de forma isolada?
A pessoa infectada pelo HIV tem direito à informação real e não escamoteada por falsas ilusões. Há, na verdade, grande espaço para esperança; as novidades, em termos de medicamentos, são muito promissoras. Por fim, os portadores de HIV devem, ao participar de estudos científicos, ser plenamente informados quanto aos conhecimentos atualmente disponíveis acerca da droga que esteja sendo testada e, particularmente, se o uso isolado do medicamento não pode vir a lhe ser prejudicial no futuro.

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