São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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'Otoridades' cariocas fazem papel de otário

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Alô, Hélio Luz, excelso chefe da Polícia Civil do Rio! Será que o "sucker" (o otário) é o Spike Lee? Pois, na minha modestíssima opinião, otárias mesmo são as "otoridades" cariocas que quiseram levar vantagem no episódio do clipe de Michael Jackson.
Ao tentar esconder a miséria carioca da lente do cineasta Spike Lee, esse bando de "ishpértos" conseguiu obter justamente o efeito contrário: acabou dando ao mundo a impressão de que somos de fato uma republiqueta das bananas, tocada por toda a sorte de malandros e oportunistas de mente estreita.
Conversando na semana passada com o norte-americano Robert Corin -repórter do programa de TV "Sixty Minutes", que veio à America do Sul cobrir a visita de Madonna à Argentina e o episódio Michael Jackson no Brasil-, quase sou forçada a me esconder debaixo do tapete da sala do colecionador Kim Esteve de tanta vergonha.
Não é que o gringo me saiu com a seguinte "tese": "Você não acha que o juiz quis impedir o clipe por motivos religiosos?"
Fui obrigada a explicar ao repórter do mais conceituado programa investigativo da TV americana que não, que o buraco, infelizmente, é mais embaixo. Que o Brasil não é dado a esse tipo de melindre hispânico; os caras só quiseram se promover às custas de Jackson, como o tal secretário de Turismo do Rio, Ronaldo Cezar Coelho, que quer ser conhecido para concorrer à prefeitura.
Que mais uma vez sobrou para o Pelé. O extraordinário ministro extraordinário teve suas declarações deturpadas e ainda tomou uma espinafrada do Spike Lee; que é fato e não "factóide" que o tráfico manda no morro e, finalmente, que em terras tapuias a palhaçada nunca tem limite.
Pensando bem, ó eminente doutor Hélio Luz, depois de ler a declaração do traficante Marcinho VP, de que seu único vício é matar, estou inclinada a achar que Spike Lee fez a coisa certa ao pagar pedágio para o traficante. Afinal, o cineasta acabou lhe dando um bom motivo para executar uma prisão que, está na cara, já devia ter ocorrido. Com ou sem clipe.

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