São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Bispo recua sobre uso de camisinha

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os bispos franceses negaram ontem que tenham defendido o uso da camisinha como forma de prevenção contra a Aids. A tese surgiu a partir de um documento da Comissão Social do Episcopado Francês, anteontem.
O bispo de Poitiers, dom Albert Rouet, presidente da comissão, disse que a imprensa exagerou. Segundo ele, a referência aos preservativos aparece em uma parte do documento elaborada por especialistas e apresentado à comissão.
"O texto da comissão analisa as fortes e profundas tendências da sociedade, e nele se menciona o preservativo a propósito da posição dos médicos e dos poderes públicos, em particular do Ministério da Saúde", disse dom Albert, para quem "é impossível falar do tema sem se referir ao preservativo".
A Igreja Católica defende a fidelidade e a abstinência sexual como formas de prevenção da Aids.
O bispo diz que o documento divulgado por sua comissão não afronta os valores da igreja porque "não é um texto de moral privada, mas um texto de uma comissão social sobre o estado da sociedade, um texto de moral social".
As declarações de dom Albert foram feitas à Rádio Vaticano, em uma demonstração de que não há oposição entre o episcopado francês e a sede da Igreja Católica.
O texto divulgado anteontem diz que o uso do preservativo é "necessário". Segundo dom Albert, essa é apenas a reprodução do ponto de vista médico.
"E é preciso lembrar que, em francês, 'necessário' não quer dizer 'suficiente'", disse.
Os bispos franceses acham que a melhor maneira de prevenção é a mudança do comportamento.
"O uso do preservativo é pois compreensível nos casos em que há a necessidade de evitar os riscos de uma atividade sexual já incorporada à personalidade", dizia o texto da comissão.
O presidente da Conferência dos Bispos da Espanha, Elías Yanes, acha que a imprensa confundiu "preservativo" com "preservar-se". Para ele, o texto segue "o ensinamento do Santo Padre".
Mas alguns bispos aproveitaram a repercussão do assunto para apoiar o uso da camisinha.
"Se você não cumpre a moral cristã, pelo menos tenha a precaução de usar o preservativo", disse o bispo de Pamplona (Espanha), dom Fernando Sebastián.
"É um pecado, mas um mal menor", disse o bispo de Salzburgo (Áustria), dom Andreas Laun.
Dom Ersilio cardeal Tonini, ex-arcebispo de Ravena (Itália), disse que deve ser dado o direito de escolha. "A igreja não proíbe nada de nada, mas fala à consciência e aos corações dos homens."

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