São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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Fusões de Frank Zappa voltam em 3 CDs

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Frank Zappa (1940-1993) usou o rock como base para seu experimentalismo. Fundiu-o com a ópera, o rhythm'n blues, a música erudita e uma série de ruídos orquestrados em seu estúdio particular.
Suas fusões com o jazz, com o pop e com o psicodelismo dos anos 60 podem ser conferidos com o lançamento de três CDs pela gravadora Natasha Records.
Cada um deles registra um momento de sua carreira mutante. "Freak Out" (1966), ainda com sua banda The Mothers of Invention, debochava do comportamento cultural e social da época.
"Apostrophe" (74) registra as primeiras interferências jazzísticas em sua música. E o póstumo "Strictly Commercial" (95) reúne seus "hits" (músicas mais identificadas com o pop; Zappa não foi consumido pela massa).
"Freak Out" é marcado por diferenças de andamento e arranjos originais. A faixa mais conhecida, "Trouble Every Day", faz discurso cortante e sentimental sobre as disputas raciais em Los Angeles.
"Go Cry on Somebody Else's Shoulders" satiriza conjuntos vocais americanos na sua estrutura musical. Já a letra -assim como "How Could I Be Such a Fool"- é um tapa na cara do romantismo.
No encarte, a explicação: "You should not listen to it, you should wear it in your hair" (você não deve ouvir isto, você deve usá-lo nos cabelos). Zappa sempre acusou o público de incompreensão.
"Apostrophe", de 74, é conhecido como sua primeira experiência de fusão do rock com o jazz. O blues também aparece. Na quase dançante "Don't Eat the Yellow Snow", sopros misturam-se no dedilhado sutil da sua guitarra.
Zappa ainda é flagrado em solos geniais, como em "Father Oblivion" e "Excentrifugal Forz". George Duke, Jack Bruce (ex-Cream) e Jean-Luc Ponty participam do álbum. O violino do último prenuncia o uso da música clássica por Zappa.
Já "Strictly Commercial" poderia bem ser uma primeira aula de Zappa para principiantes. Um corte na produção pop-rock de sua carreira. As 19 faixas incluem na maioria trabalhos dos 70 e 80.
A sátira a temas da época é uma presença em quase todas as faixas. Se em "Freak Out" ele atacou hippies e psicodélicos, nas décadas posteriores sua pistola sonora estava voltada com mais intensidade ao moralismo americano, ao racismo e ao comportamento.
Entre as babaquices eleitas, a música de discoteca (na faixa "Dancing Fool" e "Disco Boy", interpretada com voz imbecilizada.
A futilidade das adolescentes de Chicago daquela época é mostrada em "Valley Girl", com a participação da filha Moon Unit.
"Sexual Harassement" é uma pérola do seu virtuosismo, um rock instrumental ao vivo. "Tell Me You Love Me", com guitarras distorcidas e batida enfurecida, lembra o melhor Jimi Hendrix.
A censura é o alvo de outra crítica. Em "Joe's Garage - Part 1" ele conta a história de uma inocente banda de adolescentes que é massacrada pelo cerceamento do seu trabalho. A melodia ingênua recheada de gaitas enfurece-se numa batida de rock vigorosa.
Zappa desagradou aos hippies e à juventude dos anos 70 e 80, ironizou o "american way of life" e virou ídolo cult para um público fiel. Mas também fez parte dos anos 60 que tanto satirizou -como um dos extremos da ruptura.

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