São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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"Férias de Amor" faz retrato de desejos oprimidos

ALFREDO STERNHEIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

O norte-americano Joshua Logan (1908-1988), com sua curta filmografia de cerca de dez títulos, não é um cineasta consagrado, mas sempre é lembrado por este "Férias do Amor" (Picnic).
Feito em 1955, é o primeiro filme que ele assinou sozinho. Antes, havia sido co-diretor -com Arthur Ripley- de "I Meet My Love Again" (1938). Esse longo intervalo foi o tempo de Logan celebrizar-se no teatro e perder de vista as possibilidades da linguagem cinematográfica.
Isso é patente em "Picnic", marcante menos por méritos exclusivos da direção, que apresenta, às vezes, ângulos inoportunos, e mais por virtudes em outras áreas da criação. A começar pelo argumento, extraído de uma peça premiada com o Pulitzer e escrita por William Inge, o mesmo autor dos textos que serviram de base aos filmes "Nunca Fui Santa", de Logan, e "Clamor do Sexo", de Elia Kazan. Em todos, esse teatrólogo norte-americano de visão pessimista -suicidou-se nos anos 80- aborda personagens que, na busca da felicidade pessoal, se deixam levar por impulsos às vezes ingênuos ou equivocados, dentro de um contexto repressivo.
É o que ocorre nesta trama ambientada em cidadezinha do Kansas. Poucas horas antes dos festejos do dia do trabalho, o fracassado Hal (William Holden) chega para tentar obter emprego com o rico Alan (Cliff Robertson), seu ex-colega de universidade. Como um anjo exterminador menos explícito que o de "Teorema", de Pasolini, Hal fascina e perturba a todos, em especial a bela Madge (Kim Novak), garota de Alan.
Na realidade, a maioria dos personagens vive uma confusão de sentimentos. Madge corresponde a Alan por estímulo da mãe (Betty Field, excelente), que confunde felicidade com conforto patrimonial. Mas tanto a moça quanto a patética professora solteirona (Rosalind Russell), só tomam atitudes decisivas ao serem acirradas de forma involuntária pela força sedutora de Hal, em especial na antológica sequência da dança.
Envelhecido em certos diálogos óbvios, "Picnic" ainda é um emocionante retrato de desejos oprimidos e afetos nem sempre bem-encaminhados. Isso porque Logan contou com expressivo apoio: fotografia do mestre James Wong Howe, música fatalista e romântica de George Dunning e a direção de arte (premiada com o Oscar, assim como a montagem).
O elenco também é perfeito, não obstante algumas marcações teatrais, na certa impostas por Logan, que também dirigiu a peça na Broadway. Mesmo Holden, considerado velho para o papel, dá a medida certa para a mistura de fanfarronice e volúpia de Hal. E Kim Novak, então desprezada pela crítica, é uma presença convincente. A ex-miss Deepfreeze (miss Congelador), que foi lançada pela Columbia como a sucessora de Rita Hayworth para fazer concorrência a Marilyn Monroe, da Fox, com sua beleza glacial realça o comportamento cândido e nada racional de Madge. Principalmente no belo epílogo em aberto, inovador para os padrões de Hollywood naquela época, coerente com o clima poético e sensual do filme.

Vídeo: "Férias do Amor"
Direção: Joshua Logan
Elenco: William Holden, Kim Novak, Rosalind Russell, Betty Field
Lançamento: LK-Tel (tel. 011/825-5766)

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