São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996 |
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Vanessa Paradis convence em drama sobre rebelde com causa
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Num gesto de carinho, Elisa, a mãe, liga o som com a canção predileta da filha. Inesperadamente, pega um travesseiro e cobre o rosto da menina até sufocá-la. A seguir, retira da bolsa um revólver e dispara contra o próprio rosto. "Elisa - Em sua Honra", filme de Jean Becker, narra a história dessa menina, que por acaso sobrevive à tentativa de assassinato. Marcada definitivamente por aquela cena, Marie, a menina, passa a infância e adolescência em um orfanato. Conforme cresce, vai alimentando a obsessão de encontrar e se vingar do pai que não conheceu, a quem atribui a culpa por aquela noite trágica. Muitos filmes já lançaram mão dessa mistura eficaz entre conflito familiar e andamento policial da trama. No caso de "Elisa", a fórmula ganha uma força inesperada. Jean Becker soube evitar tanto a armadilha do melodrama como os excessos detetivescos. "Elisa" é um filme deliberadamente desagradável, cru, realista. Em vez de tentar arrancar lágrimas fáceis do espectador, opta por incomodá-lo, fustigá-lo na poltrona. Muito desse desconforto se deve à grande atuação de Vanessa Paradis no papel central. Por trás de seu rosto angelical, da sua aparência meiga e inofensiva, ela vai se revelando um monstro calculista, uma personalidade sádica, capaz de infernizar gratuitamente a vida de estranhos e de se vingar de cada uma das pessoas que a rejeitaram quando criança. Quase todo o filme transcorre num ritmo frenético. Há uma pressa narrativa, uma sucessão de cenas inconclusas, de fatos desarticulados que parecem corresponder ao desassossego interior de Marie. Quase no fim do filme, quando ela vai finalmente ao encontro de seu pai (Gérard Depardieu), um pianista bêbado que há anos vive isolado em uma ilha britânica, o filme sofre uma inflexão radical. A narrativa se desacelera, torna-se mais plástica, ganha em sentimentalismo e perde boa parte da crueldade inicial. Ainda assim, as belas cenas em que pai e filha insinuam o incesto são suficientes para apontar que o filme não funciona no registro do drama familiar comportado. Faltou muito pouco para que Jean Becker fizesse de "Elisa" um filme com veneno suficiente para desaconselhá-lo aos incautos. Vídeo: Elisa - Em sua Honra Direção: Jean Becker Elenco: Vanessa Paradis, Gérard Depardieu Distribuição: Look (tel. 575-6996) Texto Anterior: "Férias de Amor" faz retrato de desejos oprimidos Próximo Texto: 'Um Hotel Muito Louco" faz humor com incesto e lesbianismo Índice |
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