São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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A libertação no futebol

O que na Europa se convencionou chamar de "o caso Bosman" tende a ser o embrião de uma revolução nas leis, usos e costumes de um esporte, o futebol, que é talvez o mais conservador de todos.
Resumo: um obscuro jogador belga, chamado Bosman, terminado seu contrato, tentou transferir-se para uma equipe francesa, mas seu clube de origem negou-se a cedê-lo sem o pagamento do que os europeus chamam de "indenização", conhecida como "passe" no Brasil.
O "passe" é, nos tempos modernos, o instrumento mais próximo da escravidão. Transforma o clube em "proprietário" de um ser humano, mesmo após terminado o período de contrato de trabalho.
Bosman foi à Justiça comum, não a esportiva, e ganhou. Seu caso se transformou em jurisprudência e, a partir dele, clube europeu algum poderá cobrar pela transferência de um atleta para outra agremiação, uma vez encerrado o contrato.
Por enquanto é uma jurisprudência circunscrita à Europa ou, mais exatamente, aos 15 países que compõem a União Européia. Mas, como entre eles estão os mais poderosos do Planeta Futebol, é razoável supor que, a curto ou médio prazo, essa regra, do mais elementar sentido comum, acabará por se espraiar pelo mundo.
No mínimo, o "caso Bosman" vai atiçar uma discussão já latente no Brasil sobre a lei do passe, o que só pode ser positivo. No mínimo por obrigar os clubes a adaptar-se ao mercado, sem o protecionismo fornecido por esse instrumento semi-escravocrata.

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