São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novos planetas aumentam especulação

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando Michael D. Lemonick chegou a San Antonio, Texas, para cobertura da reunião da Sociedade Astronômica Americana ("Time" de 29 de janeiro), o ambiente era de grande excitação e curiosidade. Nos bastidores circulava a informação de que Geeoffrey Marcy e Paul Butler, da Universidade de San Francisco, iriam apresentar comunicação equivalente a uma bomba astronômica.
Se não alcançou essas proporções, a comunicação foi de fato muito importante: eles anunciaram a descoberta de dois planetas fora do Sistema Solar, um dos quais pelo menos de temperatura temperada e compatível com a vida. Imagine-se o rol de especulações que as informações despertaram.
Vários planetas desse tipo têm sido referidos, porém sua existência tem sido pouco provável, com exceção talvez dos propostos por Peter Van de Kamp na estrela de Barnard, a segunda mais próxima do Sol. Nas vésperas da estrondosa comunicação, Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, assinalaram a presença de planeta muito perto da estrela 51 na constelação de Pégaso.
Esse tipo de planeta não costuma ser visível, por várias razões. Sua presença, como ocorreu nos casos citados, é teoricamente deduzida de diversos dados, entre os quais sobrelevam pequenas alterações do comportamento da estrela correspondente.
O mesmo aconteceu com os planetas anunciados por Marcy e Butler, que observaram pequenas oscilações nas estrelas em que os descreveram, após muitos anos de estudos e observações de máximo rigor.
Os novos planetas estão situados nas estrelas 70 da constelação de Virgem e 47 da constelação da Ursa Maior. São maiores que a Terra e encontram-se a cerca de 35 anos-luz de distância.
Um ano-luz corresponde à distância percorrida num ano pela luz do vácuo, a 300 mil quilômetros por segundo, isto é, 9 trilhões e 500 bilhões de quilômetros. Uma sonda espacial das mais rápidas levaria milhões de anos para atingir os planetas, e um sinal de rádio, 35 anos.
O que dá à descoberta de Marcy e Butler aspecto todo especial é que pelo menos um os planetas, oito vezes maior que Júpiter, é de temperatura moderada pelo menos nas partes mais altas da atmosfera, podendo conter água líquida.
Isso leva naturalmente à especulação de alguma forma de vida que curiosamente teria evoluído fora de contato com o solo, em pleno espaço. Baseados em seus cálculos, Marcy e Butler traçaram um quadro geral dos novos objetos. Como Júpiter, eles devem ser gasosos com alguns núcleos rochosos.
O planeta de Mayor e Queloz tem metade da massa de Júpiter, porém sua posição fica tão próxima da estrela, que sua superfície deve ter uns 1.300 graus de temperatura. Com a descoberta referida, começará uma nova onda de pesquisas sobre planetas fora do sistema solar. Em ciência também há moda, e ela costuma estimular novas descobertas, às vezes fundamentais.

Texto Anterior: Em busca de vida inteligente
Próximo Texto: "O Labirinto da Moda" chega ao final
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.