São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Formigas 'recrutam' mais soldados em caso de guerra

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os generais que ao longo da história foram derrotados por que não souberam se preparar parra a guerra têm mais um motivo para se sentir envergonhados. Pesquisadores europeus mostraram que uma espécie de formiga aumenta o recrutamento de soldados em caso de ameaça -o clássico exemplo do ditado romano, "se queres a paz, prepara a guerra".
As formigas da espécie Pheidole pallidula foram estudadas em laboratório por Laurent Keller, professor das universidades de Lausanne e Berna, na Suíça, e três colegas da Universidade Paul-Sabatier, de Toulouse, França -Luc Passera, Eric Roncin e Bernard Kaufmann.
Eles pesquisaram quatro colônias de formigas, separadas duas a duas por um túnel no qual as formigas trabalhadoras podiam se ver a caminho de buscar comida.
Em um dos casos a separação era por uma cerca de arame fino, pela qual só podiam passar as antenas ou patas dos bichos; não poderia portanto haver combate entre elas. No outro grupo, a separação era feita por uma tela de plástico.
A espécie estudada é "polimórfica", isto é, adultos têm mais de um tamanho. Os maiores, os soldados, cuidam principalmente da defesa, ou então não fazem nada.
As colônias que eram separadas pela cerca de arame, depois de sete semanas, mostravam uma produção quase duas vezes maior de soldados em relação aos trabalhadores. Apesar disso, a biomassa total do formigueiro permaneceu a mesma. "Os soldados muito raramente buscam comida. Eles são feitos para a guerra", disse Keller em entrevista à Folha.
Ou seja, o formigueiro teve o mesmo dilema de uma sociedade humana em risco de conflito: produzir mais canhões ou mais manteiga? Um número menor de formigas trabalhadoras teve de trabalhar mais para sustentar o "exército profissional".
Em formigueiros na natureza, a proporção de soldados pode variar de meros 3,4% até enormes 41% da força de trabalho.
Por que tamanha diferença? "Nós não sabemos. Provavelmente parte da variação se deva à presença próxima de colônias da mesma espécie, mas nós não testamos isso -é muito difícil quantificar o nível de competição no campo", diz Keller.
A "Guerra Fria" entre as colônias causou essa necessidade de gastar mais recursos na "defesa" do que na "produção".
"Minha opinião é que seriam necessárias milhares de gerações para a colônia perceber que a cerca de arame é um truque e que não há perigo de guerra", afirma Keller.

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