São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Burocracia atrasa enterro em até 20 dias

MARIJÔ ZILVETI
DA REPORTAGEM LOCAL

Enterrar um parente implica passar por uma burocracia que toma, no mínimo, 12 horas, mas pode estender-se a 20 dias. Dezoito horas foi o tempo que a família de Fiorentina Francisca dos Santos, 66, levou para conseguir liberar seu corpo para o velório na terça-feira passada em São Paulo.
Fiorentina morreu em casa de madrugada, vítima de um problema no coração. Em casos como esse, o corpo tem que ser examinado no SVO (Serviço de Verificação de Óbitos), órgão da Faculdade de Medicina da USP.
O carro do IML demorou seis horas para aparecer na casa da família, no Jabaquara (zona sul).
Depois, passou por mais dois bairros em busca de outros corpos e chegou ao SVO, na região central), só às 13h30.
Segundo os parentes, a necropsia levou quatro horas. Às 17h30, com a declaração de óbito, a família foi até a agência funerária do cemitério do Araçá para dar entrada nos documentos para o enterro.
O serviço funerário da cidade de São Paulo oferece sete cemitérios municipais para quem não pode pagar enterros em cemitérios particulares. A família queria enterrar Fiorentina em um cemitério municipal na zona sul, mas só conseguiram lugar em Diadema, porque familiares emprestaram uma sepultura. O carro da funerária só chegou ao SVO às 21h30.
O caso de Fiorentina não foge à regra. A peregrinação começa quase sempre em uma delegacia -só escapam os casos de morte natural assistida por médicos.
Se a pessoa tiver morte natural em casa é preciso ir até a delegacia e registrar boletim de ocorrência (BO), procedimento que pode demorar de 20 minutos a horas, se houver fila. Registrar BO não basta. A partir desse momento, começa uma série de demoras (leia quadro ao lado).
Se o caso for de morte violenta, a espera é ainda maior. A perícia precisa liberar o local onde houve o acidente ou assassinato.
O office-boy José Cícero Caldas do Nascimento, 24, foi morto com um tiro no último dia 12, no Sumaré (zona oeste). A família passou sete horas na delegacia para fazer o BO. O corpo ficou dois dias no IML porque a polícia pediu exame toxicológico e porque a família decidiu doar os órgãos.
Morrem em média 230 pessoas por dia na cidade: 35 por morte violenta e 195 por morte natural (40 passam pelo SVO e 155 têm declaração de óbito do médico).
Francisco Claro, diretor do IML, diz que faltam auxiliares e atendentes para a equipe do médico-legista. "Poderíamos cumprir os prazos se tivéssemos mais pessoal", afirma.
O diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), Alberto Angerami, 55, defende os procedimentos atuais. "É importante que o delegado visite a casa onde está o morto porque só ele pode determinar se a morte foi mesmo natural", diz.
Como em São Paulo o serviço funerário é municipalizado, a família de um morto é obrigada a comprar o caixão da agência funerária. O preço total de um enterro em um cemitério municipal varia de R$ 188,91 a R$ 4.368,11.

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