São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Analistas consideram preço da Light alto

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O governo ao estabelecer preço mínimo de R$ 3,7 bilhões para o leilão de privatização da Light, na Bolsa do Rio, em 18 de abril, afastou diversos interessados.
Os consultores consideram o preço elevado demais.
O preço mínimo de R$ 3,7 bilhões refere-se a 100% das ações representativas do capital da Light.
Hoje, em Assembléia Geral Extraordinária da Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras), em Brasília, deve ser avaliado o preço mínimo global para alienação de até 7,27 bilhões de ações ordinárias (com direito a voto) nominativas (o nome do investidor é registrado) da Light de propriedade da Eletrobrás.
O presidente da consultoria Gemini, Paulo Apsan, observa que não há uma vontade política firme com relação à privatização do setor elétrico. "O preço elevado retira o interesse de muitos compradores", diz.
A Light registrou prejuízo de R$ 111,37 milhões no exercício de 1995. A empresa informa que o prejuízo veio de participações societárias na Eletropaulo.
Raymundo Magliano Filho, vice-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, diz que a privatização do setor elétrico é essencial, pois o Estado não tem recursos para investir.
A vinda de empresas estrangeiras para o Brasil exige a criação de infra-estrutura adequada. Segundo Magliano, os próprios Estados devem realizar parcerias de suas concessionárias com a iniciativa privada como forma de atrair o capital externo.
A privatização da Light avançou com a cisão da empresa e a divulgação do edital e dos termos do contrato de concessão, diz Waldomiro Pecht, responsável pela análise de empresas estatais na Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap).
O menor interesse pela compra da Light ocorreu após a reunião do Conselho Nacional de Desestatização, em 18 de janeiro, quando foi feita uma reavaliação nos preços e adiado para abril o leilão de privatização. O processo de privatização da Light foi iniciado pelo governo em junho de 1995.
Pecht diz que um fator positivo para o avanço do processo de privatização da Light foi a aprovação na Assembléia de acionistas, em 29 de janeiro, da cisão da empresa em Light Serviços de Eletricidade S/A, que irá a leilão, e a Light Participações S/A, que absorverá os créditos, obrigações e direitos relativos à Eletropaulo.
O edital da privatização da Light, divulgado em 1º de fevereiro, definiu também um modelo de gestão para o setor elétrico e, em particular, os critérios para o reajuste tarifário.
Mercado atento
Estudo realizado pelo Banco Fator informa que a expectativa de privatização deve continuar como a principal força determinante dos preços das ações do setor elétrico nas Bolsas nos próximos 12 meses. As privatizações da Light, Cerj, Celg e Enersul são esperadas para 96. O departamento técnico ao analisar as informações das companhias do setor elétrico privatizáveis considerou como atraentes como investimento os papéis da Cerj, Cesp, Eletropaulo, Light e Paulista Força e Luz.
O Banco Fator considera, no entanto, que o preço mínimo de R$ 3,7 bilhões das ações da Light já reconhece a maior parte dos ganhos decorrentes da privatização.
As ações da Cesp tem mostrado fraca performance nos últimos meses por causa de elevado nível de endividamento. A empresa está emitindo neste primeiro trimestre US$ 710 milhões em eurobônus (títulos para captar dinheiro no exterior), como forma de refinanciar sua dívida.
Em polêmico processo, a Escelsa foi a única empresa de porte do setor a ser privatizada até agora. Segundo o Banco Fator, o ritmo das privatizações deve aumentar na segunda metade de 96.
Um cronograma de privatização possível incluiria a venda da Cerj e Enersul no segundo semestre.
Os técnicos do Banco Fator entendem que os lucros do setor devem mostrar taxas positivas de crescimento, revertendo uma era de custos em alta e resultados desanimadores.
Os investimentos no setor devem aumentar em 1996 com a entrada de investidores privados nos processos de licitação das usinas em construção.
Os investimentos previstos devem totalizar US$ 22 bilhões nos próximos cinco anos. A maior parte dos investimentos deve ser de empresas públicas, sendo que a participação do setor privado deve permanecer em 20% do total.

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