São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Indústria do fumo descobre a Ásia

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A indústria de cigarros, cercada no Ocidente por campanhas antifumo e queda nas vendas, encontrou um mercado para alimentar sua expansão: a Ásia.
Marcas locais e importadas lançam agressivas campanhas publicitárias, na disputa por novos consumidores e em busca de estratégias para driblar restrições impostas a anúncios de cigarros.
O consumo de tabaco na Ásia cresceu 15% entre 1988 e 1992, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
A indústria de cigarros calcula que as vendas no mercado asiático crescerão 33% entre 1991 e 2000.
A Indonésia, por exemplo, espera que a sua produção de cigarros se expanda a uma taxa anual de 8% na próxima década.
A injeção do capitalismo aumentou o poder aquisitivo em culturas habituadas a conviver com o fumo e trouxe novos estímulos à expansão das vendas de cigarros.
Além disso, a sociedade passou a valoriza padrões ocidentais de consumo. Cigarros importados transformaram-se em sedutora mercadoria.
Em Taiwan, pesquisa revelou que, em 1991, 20% dos jovens entre 15 e 17 anos tinham experimentado fumar, contra 3% em 85.
Outro estudo mostrou que, em 1987, 5% dos cingapurianos com 18 ou 19 anos fumavam. Neste ano, a cifra saltou para 15%.
Mulheres também representam um crescente exército de fumantes. A invasão de influências ocidentais permitiu-lhes desafiar antigos tabus culturais, rompendo a imagem negativa das fumantes.
Restrições
Assustados com o crescimento da nuvem de fumaça, governos asiáticos passaram a impor restrições a comerciais e vendas de cigarros.
A China, por exemplo, proibiu anúncios na TV e a Coréia do Sul lançou lei para permitir a instalação de máquinas automáticas que vendem maços apenas em locais proibidos para menores.
Para driblar as restrições a suas campanhas publicitárias, as fábricas de cigarros passaram a patrocinar eventos esportivos e culturais, que garantem a veiculação da marca e sua associação a um empreendimento considerado "positivo".
Nos últimos sete anos, a Phillip Morris patrocinou o Festival de Artes de Hong Kong. A colônia britânica proíbe anúncios de cigarros em rádio e TV desde 90.
O mais famoso torneio de tênis em Pequim carrega o patrocínio da marca Salem, enquanto os cigarros Kent promovem os eventos ciclísticos do país. O Mild Seven optou pelo automobilismo.
China
Maior produtor e maior consumidor de cigarros do mundo, a China testemunha seu número de fumantes crescer a uma taxa de 2% ao ano desde 1985.
O país, no entanto, disparou uma campanha antifumo que levou 16 cidades a adotar leis para proibir fumar em locais públicos.
A China tem 180 fábricas que produzem quase 900 marcas.
Os chineses, apesar de seu modesto poder aquisitivo, estão dispostos a gastar uma média de 60% de sua renda pessoal para comprar cigarros. E quanto mais pobre a pessoa, maior a parte da renda que ela se dispõe a reservar para seu hábito de fumar, diz a pesquisa.
O estudo foi realizado em Minhang, subúrbio de Xangai, maior cidade chinesa. Foram ouvidos 3.423 homens e 3.593 mulheres.
A campanha antifumo decola lentamente. O país prevê a proibição de anúncios de cigarros (que já foram banidos da TV) até o ano de 2000.
Pequim aprovou, no ano passado, lei que proíbe, a partir de maio, fumar em locais públicos. Quem for flagrado saboreando um cigarro num hospital, escola, teatro, cinema, rodoviária, etc. pagará multa de 10 yuans (US$ 1,14).

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