São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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O Palmeiras é líder, isolado, sobrando

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Agora, sim, a tabela de classificação do Campeonato Paulista reflete a realidade do campo: o Palmeiras, líder, isolado, sobrando.
Foi o que se viu ontem no Parque Antarctica, quando o Palmeiras desalojou a Lusa da liderança num 3 a 1 construído assim num ritmo de pós-Carnaval.
É bem verdade que os primeiros movimentos foram lancinantes, com Muller escapando pela esquerda e acionando seus companheiros em toques vertiginosos, até que Sandro abrisse o placar.
Depois, caiu, roçou o tédio para reacender no final, com três gols feitos perdidos em sequência.
Pode ser que alguém ainda alcance esse time. Mas duvido.
*
No sábado, o Corinthians escapou por um triz de mergulhar numa daquelas crises tradicionais no Parque.
Perdia de 3 a 2, com um jogador a menos, quando São Jorge resolveu intervir no último instante, arrancando um empate do Diabo, como também é conhecido o América, lá pelas bandas de São José do Rio Preto.
Isto é: São Jorge, Edmundo e Marcelinho, a santíssima trindade desse time que segue invicto no campeonato, com um olho espichado em direção a Libertadores e outro vigilante nas armadilhas que se armam pelo caminho.
Uma delas, o murmúrio de que o técnico Eduardo Amorim estaria na corda bamba.
Outra, a impossibilidade de o treinador montar sua equipe nos trinques, posto que os jogadores escapam-lhe dos dedos como água, com as sucessivas expulsões.
Sábado, foi a vez de Bernardo, numa jogada pueril.
O fato é que, descontando-se as falhas do miolo da zaga e do goleiro, no cruzamento que resultou no terceiro gol americano, há que se ressaltar também o talento do meia Adriano, na organização de jogadas de ataque, e a impetuosidade de James, um avante arisco, forte e oportunista.
Mas, em todo caso, é sempre bom e aconselhável manter acesa aquela velinha para o santo.
*
O que mais me causa apreensão no time de Zagallo que volta a campo amanhã para enfrentar o Uruguai é a postura da nossa zaga.
Não se trata apenas do erro de avaliação do treinador em levar quatro zagueiros de área de discutível técnica e reduzida experiência, deixando por aqui beques do porte de Sorlei e André Santos, por exemplo. Pode-se dizer que isso é subjetivo, uma questão de gosto etc.
Mas o surpreendente é que Mario Lobo Zagallo, reconhecidamente um mestre na montagem de sistemas defensivos, fique impassível vendo a atual zaga jogando em linha.
Foi assim na derrota diante do México, na Copa Ouro, e está sendo assim no Pré-Olímpico.
Até mesmo diante da frágil Bolívia, nossos zagueiros foram envolvidos várias vezes por manobras elementares dos atacantes adversários, exatamente por se postarem em linha.
Aquela mesma que João Saldanha cunhou há quase 30 anos como "linha burra". Burra porque, se o adversário passar por um, passou por todos.

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