São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Brasil busca um lugar ao sol na Austrália

CRISTINA ZAHAR
DA REVISTA DA FOLHA

Seis estudantes e dois professores da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) estão construindo um carro solar para disputar, em novembro, a World Solar Challenge na Austrália. É a primeira vez que a USP investe em um projeto do gênero.
Capitaneados pelos professores Julio Cezar Adamowski e Marcelo Godoy Simões, os alunos do quarto ano de mecatrônica envolvidos na construção do carro estão otimistas.
Marcelo de Mesquita Sampaio, 21, espécie de porta-voz do grupo, trabalha no projeto desde o final de 94. "Esse carro é muito importante para nós, pois equivale a um estágio. Temos que estar com tudo pronto até julho", diz.
Os outros -Carlos Aurélio Bustamante Gonçalves, 23, Andrei Ferrari Monteiro, Felipe Canhoto, Rogério Kiyoshi e Daniel Mano Santos, todos de 21 anos- também sentem o peso da responsabilidade. "É a primeira vez que fazemos peças que serão usadas. Todas têm que estar certinhas", afirma Daniel.
Apesar de a corrida ser somente em novembro, a turma da Poli corre, literalmente, contra o relógio. Após um ano de trabalho, eles ainda estão fazendo o protótipo, que precisa ficar pronto para testes até o fim de março. A partir daí, começa a construção do carro definitivo, que deve estar prontinho até julho. Em agosto, o bólido segue de navio para a Austrália (leva três meses para chegar).
Mas como é esse tal de carro solar? Feito em fibra de carbono, ele mais parece uma banana. Daí o nome do primeiro carro solar brasileiro -"The Banana Enterprise"- que representou o país na corrida australiana em 1993 (leia texto ao lado). Ainda sem nome definitivo, o atual carro leva duas pessoas, que sentam de costas uma para a outra, e é equipado com motor elétrico e nove baterias.
Toda a sua extensão (6 metros) é coberta por células que captam a energia solar. Essa energia é, então, enviada ao motor, que coloca o carro em movimento. Quando há sobra de energia, ela é armazenada nas baterias. Para acelerar o carro, o piloto gira um botão parecido com o do rádio. Há duas formas de parar: freio mecânico ou motor (espécie de plugue que pode ser acionado para cima ou para baixo).
O World Solar Challenge não é a única corrida solar do planeta, mas é a mais importante. Na última edição participaram 50 carros, a maior parte vinda da Europa, dos Estados Unidos, da Austrália e do Japão.
Disputada a cada três anos, a competição já tem três campeões: a GM, em 87; a Universidade Biel, da Suíça, em 90; e a Honda, em 93. Vale lembrar que a equipe da Honda era formada pelos mesmos engenheiros que ganharam o Mundial de Fórmula 1, em 92, com Ayrton Senna.
A equipe brasileira deve ser formada por dez pessoas: os professores e alunos da Poli mais dois engenheiros. A idéia é revezar os pilotos, pois cada um só pode dirigir cinco horas seguidas. Os demais seguem no carro de apoio.
Como a corrida é disputada apenas de dia -das 8h às 17h-, um fiscal acompanha cada carro para marcar o local exato da parada. Os pilotos podem acampar ou dormir onde quiserem. Mas, no dia seguinte, têm que largar do mesmo lugar em que pararam na véspera.
Os carros de ponta, conta Julio Adamowski, levam cinco dias para completar o trajeto de 3.000 km entre as cidades australianas de Darwin e Adelaide. O da Honda percorreu 746 km por dia contra uma média de 680 km/dia dos demais carros. O prazo máximo para a chegada é de dez dias.
Toda essa brincadeira sai cara. O custo estimado para a construção do carro e a viagem da equipe gira em torno de US$ 300 mil. Parte desse dinheiro está sendo captada por uma associação sem fins lucrativos ligada à USP. "O restante terá que vir do patrocínio das empresas", diz Adamowski. O objetivo da equipe da Poli é ficar entre os dez primeiros colocados.

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