São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Teens são um terço de infectadas pelo HPV

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Infectada com o papilomavírus, o HPV, na adolescência, morta aos 30 anos de câncer do útero. Esse é o risco que cada vez mais mulheres brasileiras estão correndo, e que mostra como alguns tipos de câncer servem como "indicadores sociais", mostrando a diferença entre países e classes sociais.
Em países ricos, os exames preventivos são feitos com mais intensidade e a infecção é tratada em um estágio precoce, diminuindo a mortalidade. Um alto índice de câncer do útero indica um sistema de saúde precário.
Dados de 1993 da Fundação Seade indicam que o câncer do colo do útero é o segundo mais letal entre mulheres no Estado de São Paulo -7,5 mortes para cada 100.000 mulheres. Em primeiro lugar vem o câncer da mama, com 12,5 mortes por 100.000.
Em um país como os Estados Unidos, a incidência desse tipo de câncer é de 7,3 casos em cada 100.000 entre as brancas e 11,7 entre as negras -revelando a diferença de situação sócio-econômica entre elas. Já em Cali, na Colômbia, são 42,2 casos. Em São Paulo são 35,1 casos.
"Sexo antes dos 18 anos é um fator de risco", diz a médica Carmen Lúcia Freitas Santoro, da Fundação Oncocentro de São Paulo. Mas virgindade não torna a menina à prova do vírus HPV. Ela pode se infectar até mesmo com sabonetes ou roupas que tenham as partículas virais, e tenham sido usados, por exemplo, por uma irmã já praticante de sexo.
Carmen fez um estudo com 124 adolescentes que procuraram ou foram enviadas à fundação com suspeita de infecção, das quais 40 eram virgens. Diferentes exames foram feitos nas meninas. A colposcopia (exame ótico da vagina) em 92 delas mostrou 26% de sugestão de presença do vírus. Já a biópsia em 115 meninas resultou em 65% de casos de infecção. O índice entre as não-virgens foi cerca de 20% maior.
Na fase em que o vírus está latente, que pode ser de até oito meses depois da infecção, ele só pode ser identificado por técnicas de biologia molecular.
"30% de todas as mulheres com vida sexual ativa têm o vírus", diz Carmen. A incidência está particularmente alta entre adolescentes -de modo geral, um terço dos casos. Mas nem todas as variantes do HPV são letais. E em 40% dos casos existe uma regressão, com o vírus sendo eliminado pelo próprio sistema de defesa do organismo.
Como não existe tratamento específico para o vírus HPV, os médicos procuram controlá-lo extirpando as verrugas com drogas cáusticas e cauterizando as lesões. Assim como acontece com o mais perigoso HIV, causador da Aids, o melhor remédio é a camisinha.

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