São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Cacá Rosset remonta 'Ubu' em São Paulo

Ornitorrinco comemora 100 anos do personagem

MÔNICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor e ator Cacá Rosset celebra os 100 anos de Ubu, personagem de Alfred Jarry, com a remontagem do maior sucesso do grupo Teatro do Ornitorrinco.
"Ubu, Pholias Physicas, Pataphysicas e Musicaes" reestréia dia 9 de março, no Teatro da FAAP, em São Paulo.
Na última década, o espetáculo circense movido pelas idéias do rei anarquista Pai Ubu tornou-se um musical cult. Dez anos depois, a reestréia, em São Paulo, anuncia um novo ciclo para a peça.
"Ao contrário de Getúlio Vargas, Ubu deixou a história e caiu na vida", diz Rosset. "É raro um personagem de teatro se tornar tão popular." O diretor lembra que sua caracterização do personagem chegou a intervir até no Congresso e em debates políticos.
O Rei Ubu de Cacá Rosset debutou em dezembro de 1985, no teatro João Caetano, em São Paulo. Desde então, foi visto por mais de 350 mil pessoas, no Brasil, Espanha, Alemanha, Colômbia, Itália e México. Agora, começa a render subprodutos.
A exposição "Ubu, a Patafísica nos Trópicos" será inaugurada dia 16 de abril, no Museu de Arte Brasileira da FAAP, com 40 artistas convidados, entre eles Ivald Granato, Guto Lacaz, Antonio Henrique Amaral, Tomoshigue Kuzuno, Maria Bonomi, Carlos Delfino, Paulo Caruso e Angeli.
Trará ainda os croquis dos cenários e figurinos originais feitos pela arquiteta Lina Bo Bardi, usados também na nova montagem.
A cenografia, que decompõe o teatro e exibe sua estrutura, é assinada neste ano por Miguel Paladino, ex-assistente de Lina.
O ciclo de palestras "Jarry, Literatura e Transgressão", coordenado por Claudio Willer, também esquenta a agenda do centenário do Rei Ubu neste semestre.
"Vamos editar um CD com as músicas da peça e um livro com as fotos. Depois de todos esses anos, temos um material fotográfico riquíssimo. Ubu com Maluf e com Covas, por exemplo", diz Rosset.
"Quanto à música, o 'Rock da Descerebragem', baseado em um poema de Jarry, é um dos mais fortes da peça."
Os elementos de palco, entre eles as bicicletas construídas com séries de rodas voltadas para o ar e uma coleção de objetos surrealistas do universo de Jarry, ganharam status de obra de arte.
"O MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova York) quer fazer uma cópia em bronze do 'polochon', o porco com dois traseiros, criado por Lina Bo Bardi", orgulha-se Rosset.
Liderando o Teatro do Ornitorrinco há 19 anos, Rosset aposta no potencial do texto de Jarry e planeja uma temporada de um ano.
"O Ubu conquistou um público heterogêneo. Do jovem que odeia teatro aos pais dele, que vieram a reboque", diz Rosset.
O ator José Rubens Chachá, intérprete de três personagens nas duas montagens da peça, entre eles o apresentador que recepciona o público na rua, concorda com Rosset. "Eu tinha uma piada para cada pessoa da fila. Quem não tinha dinheiro para a entrada vinha 'assistir' à fila", diz Chachá.
A peça tem quatro ensaios abertos gratuitos, a partir do dia 5 de março, sempre às 21h. Os convites devem ser retirados na bilheteria.

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