São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Landis observa descontrole do capital

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Não deixa de ser lancinante a comparação entre um filme recente, "Uma Noite Alucinante 3", de Sam Raimi (Globo, 21h40), e um de dez anos atrás, "Trocando as Bolas", de John Landis (SBT, 13h35).
Sam Raimi é um cineasta elegante, assim como Landis. Tem uma visão distanciada do horror, assim como Landis em certas ocasiões ("Inocente Mordida").
Mas seu filme, para existir, apela à inocência do "entertainment" e, embora possamos admirar o que torna visível, no caso o filme mais antigo é também o mais dramaticamente atual.
A situação: dois magnatas da Bolsa decidem fazer uma experiência cruel. Reduzir um jovem yuppie (Dan Aykroyd) a miserável. E transformar um pobre coitado, negro além do mais (Eddie Murphy), em um mago da bolsa.
Em um nível, esse filme behaviorista afirma que qualquer pessoa pode ser seu exato oposto, desde que tenha o condicionamento adequado. A riqueza e a pobreza, o sucesso e o fracasso, não são fatos dignos de valoração.
Landis faz uma crítica feroz do capitalismo, essa é a verdade, sob a forma de comédia: não existe essa subjetividade essencial que determina o pensamento individualista. O que existe é o poder do capital. Ele não apenas se acumula, como cria as pessoas tais como são (yuppies, vagabundos etc.).
Não importa as reviravoltas do filme. Ali estão previstas uma série de coisas com que nos defrontamos no presente neoliberal. Entre elas, a chegada do capital a um estágio em que nem mesmo os capitalistas o controlam. "Trocando as Bolas" fala de uma lógica da acumulação mais poderosa do que o sujeito mais poderoso. É uma pena -mas também é lógico- que Landis esteja hoje reduzido a um quase silêncio.

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