São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Xerife ou babá?

Já vão longe os anos em que prevaleciam as antíteses insolúveis entre Norte e Sul, capitalismo e comunismo, credores e devedores.
Naquela época surgiram instituições que ainda estão aí, procurando uma nova identidade. Das Nações Unidas à Otan, passando pelo Fundo Monetário Internacional, o clima hoje é de revisão de prioridades, critérios e objetivos.
Mas o que se vê hoje é a vitória do pragmatismo político, em prejuízo da ortodoxia financeira.
Marcaram época, por exemplo, as idas e vindas de autoridades brasileiras ao FMI, portando cartas de intenções, fazendo fila junto aos banqueiros e prometendo, e às vezes cumprindo, os mais duros arrochos econômicos em troca de alívio financeiro externo.
Mas o FMI, que era xerife, está mudando e agora sente-se melhor atuando como "babá": deverá liberar um empréstimo de US$ 10,2 bilhões para a Rússia, onde se preparam eleições cruciais. Antigamente, a prudência financeira recomendaria esperar o fim das eleições ou a posse de um novo governo antes de estender a mão aberta.
Não prima pela cautela financeira a decisão do FMI, mas pela dura constatação de que alguns dos programas de transição no Leste fazem água, e ex-comunistas voltam ao poder, o que muitos temem possa ocorrer na própria Rússia.
Um mundo sem xerifes talvez seja um mundo melhor. Resta saber se os maiores beneficiados, como a Rússia ou o México no ano passado, conseguirão crescer e jogar fora a mamadeira que agora os ampara.

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