São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996 |
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Festa fúnebre Alguns pesquisadores da cultura brasileira já estudaram a vasta gama de motivações psicológicas, sociais, antropológicas e culturais que fazem do brasileiro, durante as festas carnavalescas, um indivíduo intensamente produtivo e infinitamente criativo, o que também é motivo para regozijo geral. Outros porém vêm apontando com insistência, e não sem razão, o terrível contraste entre a opulência dos desfiles e a crua miséria, acompanhada de criminalidade. Só no Estado de São Paulo foram assassinadas 219 pessoas durante o Carnaval. Comparando as mortes entre o sábado e o início da quarta-feira, os homicídios aumentaram em 18% em relação ao ano passado. Ainda que no Rio de Janeiro a diferença entre os "altos" da exuberância carnavalesca e os "baixos" do dia-a-dia seja ainda mais profunda, ao menos a ação preventiva do poder público contribuiu para que os homicídios caíssem 19% este ano, em vez de aumentar. É claro que a relação entre mais policiamento e menor número de assassinatos não é necessariamente direta. Da situação geral de cada cidade, ao mero acaso, muitos fatores influem nessa estatística. O fato é que os dilacerantes noticiários sobre morticínio nas estradas e subúrbios das grandes cidades têm obscurecido a alegria do Carnaval. São como sirenes tocando cada vez mais alto sob o torpor da música. Sem o combate à miséria e a ação direta contra a violência, o Carnaval pode tornar-se um fúnebre símbolo do subdesenvolvimento brasileiro. Texto Anterior: Xerife ou babá? Próximo Texto: Âncora firme, barca furada Índice |
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