São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Consumo de drogas; Ciranda desejada; Nudez cerebral; Tráfico de animais; Brasil sem porteiras; Vida de gado; Aniversário

Consumo de drogas
"A reportagem 'Para advogados, apitar em Ipanema é exercer cidadania' apresentou os depoimentos de dois ilustres advogados, que dizem o seguinte: 'À luz do contexto social, elas se constituem em manifestações legítimas de cidadania', afirma o advogado criminalista Maurides de Melo Ribeiro. O seu colega, advogado Alberto Zacharias Toron, também atuante na área criminal e, pasme o senhor, presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes, concorda. Ouso divergir: o caso não se trata de apitar ou não. É notório que os supostos apitadores são, também, usuários da droga fumada na praia de Ipanema, e a conduta dos portadores de apitos consiste em apitar, quando da aproximação da polícia, com o intuito de avisar aos demais usuários. E, com isso, evitar o flagrante por porte e uso de entorpecentes, o que ainda é crime no Brasil. Portanto, é fácil observar que a conduta dos apitadores de Ipanema pode ser perfeitamente enquadrável no artigo 14 da lei 6.368/76. Apitar na praia de Ipanema, quando se reúnem pessoas que fazem uso de drogas, não é cidadania, mas crime previsto no artigo 12, parágrafo 2º, I, da lei 6.368/76."
Israel Alves de Araújo (São Paulo, SP)
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"Há tempos venho seguindo as notícias sobre maconha e cada vez entendo menos. Agora é a vez da primeira-dama, Ruth Cardoso, dizer que devemos legalizar o uso. Li também há tempos que 'Cannabis Sativa' é comida de passarinho; portanto, as senhoras gestantes podem dar aos seus bebês recém-nascidos um pouquinho, que acredito também não irá fazer nenhum mal."
Jairo Sguassábia (Lindóia, SP)

Ciranda desejada
"Verifica-se com a subida do dólar que existe um plano de rotina para desvalorizar a moeda brasileira, e podemos vislumbrar em horizonte não muito distante a volta da 'ciranda financeira' que os insaciáveis detentores do dinheiro desejam tanto."
Tito Livio Fleury Martins (São Paulo, SP)

Nudez cerebral
"Devo dizer que para um entusiasta da causa feminista o senhor Josias de Souza me parece mal informado. Gostaria de esclarecer que não temos a menor intenção de passar o ano inteiro tentando provar-nos superiores aos homens, mas que passamos a vida buscando simplesmente resgatar aquilo que o sr., com sua pretensa solidariedade, não teve o cuidado de levar em conta: a nossa dignidade. É lamentável constatar que, apesar de tantos esforços, não conseguimos influir nos valores machistas de uma sociedade que continua preferindo ver na mulher um corpo, objeto de consumo que a mídia não tem tido o menor pudor em explorar. Portanto, se quisermos falar de nudez cerebral ou debilidade mental, não podemos deixar de lembrar o disparado sucesso que as nossas frestas mais íntimas, comparadas ao nosso cérebro, alcançam, lamentavelmente, na preferência do mercado masculino."
Malvina Muszkat (São Paulo, SP)
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"Uma das piores sequelas que o 'feminismo' deixou foi a vulgarização da mulher. Josias de Souza (21/2) presta um serviço inestimável às nossas companheiras de jornada e vida. Elas devem se posicionar em relação ao exibicionismo descarado e irresponsável de uma minoria que quer fazer passar a imagem de que todas as mulheres são 'modelos' e 'atrizes', assim mesmo entre aspas."
Humberto Alves Mendes (São Paulo, SP)

Tráfico de animais
"Dos 170 zoológicos de todo país, 90% são ilegais. Alguns são pontos de tráfico de animais, servem como prostíbulos e um zôo de Paraty emprestou suas dependências e animais para ser rodado um filme pornográfico ('Mulheres Taradas por Animais'), cuja venda foi suspensa por um ato isolado da superintendência paulista do Ibama. Há intenso tráfico de animais de alto valor para colecionadores, envolvendo pessoas cadastradas como criadoras no órgão. Neste exato momento, as estradas que levam ao Nordeste estão apinhadas de traficantes de animais que não sofrem qualquer tipo de repressão. As feiras do Rio de Janeiro vendem abertamente animais silvestres e o Ibama mantém naquele Estado 10% de todos os funcionários do órgão, inclusive 230 deles tomando conta do Jardim Botânico, número bem superior àqueles mantidos nos Estados da Amazônia. Por tudo isso achamos a anunciada campanha do Ibama contra tráfico no mínimo demagógica, pois o fisiologismo do próprio órgão banalizou o extermínio de nossa fauna e a crueldade com animais."
Marcio Augelli, presidente da Sociedade Humanitária Tucuxi (São Paulo, SP)

Brasil sem porteiras
"O motivo desta é a revolta que me causou a leitura da crônica 'Lavaram São Paulo' (29/1). O cronista foi extremamente infeliz quando não fez uma reflexão antes de atacar um pedaço do nosso país. Não compreendo o sr. cronista se referir aos baianos como 'donos da preguiça nacional' e aos paulistas como 'donos do trabalho'. Será que ele desconhece a quantidade de nordestinos que contribuiu para criar esta potência de trabalho que fez de São Paulo o que é hoje? Como na Bahia não existem 'porteiras', pois o Senhor do Bonfim recebe a todos, sem distinção -inclusive os grosseiros, mal-educados, despeitados- de braços abertos, faço um pedido ao sr. Carlos Heitor Cony: não venha à Bahia. O senhor não merece o carinho e a hospitalidade que fazem parte do cotidiano dos baianos."
Alzimidia Anna Valle de Carvalho (Rio de Janeiro, RJ)
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"Em artigo publicado em 19/1, o sr. Carlos Heitor Cony teceu alguns comentários sobre a festa da 2ª Lavagem da Avenida São Luis, realizada no último dia 25 de janeiro, em comemoração ao aniversário de São Paulo. Provavelmente, o nobre articulista, numa de suas passagens por aqui, não tenha percebido que a maior riqueza desta cidade é a sua diversidade. É assim, por exemplo, com o 'Oshogatau', a festa do ano novo, comemorado pela comunidade japonesa da Liberdade. É assim também com a festa de Nossa Senhora Aquiropita, padroeira da comunidade italiana aqui em São Paulo. No final de seu artigo, Carlos Heitor Cony aconselha o 'fechamento' das porteiras da cidade para impedir a avalanche espiritual dos baianos. Este conselho deve ter provocado no mínimo calafrios num dos mais ilustres filhos da terra: Oswald de Andrade, que ficou célebre, entre outras coisas, com sua tese da 'Antropofagia'. Sugerimos ao articulista da Folha que da próxima vez que visitar São Paulo, já venha imbuído de um espírito mais preguiçoso, como bem ensinou outro filho ilustre, Mário de Andrade, com seu anti-herói Macunaíma (não temos nada contra a preguiça), porque infelizmente não poderá ser influenciado pelos mais de 8 milhões de nordestinos que aqui habitam e trabalham, e muito."
Jean Pierre Rocha, sócio-diretor da M. Rocha Comunicação, agência idealizadora do evento "Lavagem da Av. São Luis" (São Paulo, SP)

Vida de gado
"Foi um pesadelo medonho desses que a gente baba na fronha, se urina todo e já não tem paz: rebanhos sem pastores, bois sem pasto, todos encurralados, espremidos; vida de gado. Mas quando acordei vi que os bois eram só crianças e jovens querendo uma escola pública de boa qualidade."
Elizabeth Seno (São Paulo, SP)

Aniversário
A Folha agradece os cumprimentos pela passagem do seu 75º aniversário que recebeu de: Fernando Bezerra, presidente da Confederação Nacional da Indústria (Rio de Janeiro, RJ); Oded Grajew, diretor-presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança (São Paulo, SP); Geraldo Alonso Filho, presidente da Norton Publicidade (São Paulo, SP); Maria Thereza Druck Bastide, diretora de comunicação do Grupo Habitasul (Porto Alegre, RS); Ângela Cassiano, proprietária da Accesso; Mário Negreiros dos Anjos (Niterói, RJ).

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