São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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83% dos policiais morreram durante 'bicos'

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O número de policiais de São Paulo mortos em "bicos" (segurança, vigia e porteiro) é quase cinco vezes o de mortos em serviço. A informação consta do primeiro relatório do ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, 36.
"Deveríamos melhorar o piso salarial e diminuir o bico, que dificulta o melhor atendimento à população." Segundo Mariano, "a função de policial é exclusiva do Estado". O efetivo do Estado de São Paulo é de cerca de 82 mil policiais militares e 35 mil civis.
Segundo o diretor de Comunicação Social da PM, coronel Edilberto Ferrarini, a morte em horas vagas não é novidade. Ele diz que a PM acatará as recomendações da Secretaria da Segurança.
"Todos os comandantes sabem que os policiais trabalham e não sei como poderíamos impedir. É um problema endêmico do funcionalismo público. Se está trabalhando e agindo de maneira correta, como vamos proibir?"
Empossado pelo governador Mário Covas há três meses, Mariano, sociólogo que trabalhou em entidades de direitos humanos, recebeu mais de mil denúncias: demora no atendimento em delegacias, tentativa de extorsão e maus tratos, entre outras.
Setecentos casos estão sendo acompanhados de perto. Cerca de 60% das reclamações foram contra a Polícia Civil. "A população não é bem atendida em delegacias."
No relatório, 17 casos relacionados à integridade física são destacados. "Acreditamos que os casos de violência policial são prioritários, e acompanhamos os casos de abuso de autoridade, tortura e homicídios com mais detalhes."
Preocupado com a formação dos policiais, a ouvidoria está sugerindo mudanças nos currículos das academias militares. Cursos sobre cidadania e direitos humanos seriam ministrados por membros da sociedade civil.
Em relação ao aumento no número de homicídios na cidade de São Paulo, Mariano acha que é necessário "desarmar a população".

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