São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Senado convoca Loyola para depor

LUCAS FIGUEIREDO; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado decidiu investigar os indícios de irregularidades no sistema financeiro envolvendo os bancos Nacional, Econômico, Banespa e Banerj e convocou para depor o presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola, e os diretores de Política Monetária, Alkimar Moura, e de Fiscalização, Cláudio Mauch.
Os três dirigentes do BC vão depor amanhã. A convocação foi feita pela comissão mista do Congresso que estuda a medida provisória sobre fusão de bancos.
As investigações revelando as irregularidades nos balanços do Nacional e a prática de operações consideradas fraudulentas, reforçaram entre os congressistas a idéia de instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro.
A maioria governista, no entanto, não concede as assinaturas necessárias para a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito.
Além dos três dirigentes do BC, o Senado também convocou para depor os auditores dos quatro bancos bancos sob suspeita. Os auditores vão prestar depoimento em sessões conjuntas com o presidente e diretores do BC.
Ao todo, os dirigentes do BC devem dar cinco depoimentos à comissão. Depois da primeira sessão, amanhã, na próxima terça-feira a comissão ouve os dirigentes do BC e do Nacional. Na quarta, Loyola, Mauch e Moura voltam ao Senado para serem acareados com diretores do Banespa. No dia seguinte, é a vez dos ex-controladores do Econômico e na semana seguinte, do Banerj.
"O sistema de fiscalização do BC é cartorial e está falido", disse o relator da comissão, Benito Gama (PFL-BA).
Para tentar neutralizar o volume crescente das críticas do Congresso à gestão do sistema financeiro pelo BC, o presidente Fernando Henrique Cardoso teve de agir.
A ofensiva do Planalto tentou esvaziar a ação dos partidos de oposição para criar uma CPI que apure a fiscalização do BC.
FHC conversou ontem no Palácio do Planalto com senadores que apóiam o governo e disse que a atual diretoria do BC não tem responsabilidade sobre as irregularidades ocorridas nesses bancos, já que elas teriam acontecido antes do seu governo.
O presidente disse que sua administração tem sido rigorosa com os bancos. Investigações do BC apontam para um rombo de até R$ 5 bilhões no Nacional gerado por operações ilegais desde 87.
Além de FHC, ocuparam a Presidência, nesse período, José Sarney (85-89), Fernando Collor (90-92) e Itamar Franco (92-94). Fernando Henrique ocupou o cargo de ministro da Fazenda no governo Itamar, sendo responsável à época pelo BC.
"O presidente tem razão. Essas irregularidades vêm sendo feitas nos últimos dez anos e isso não pode ser creditado à atual diretoria do BC", afirmou o senador Ramez Tebet (PMDB-MS), após conversa com FHC.
Além de Tebet, estiveram com FHC o líder do governo Elcio Alvares (PFL-ES), e os vice-líderes José Roberto Arruda (PSDB-DF) e Vilson Kleinubing (PFL-SC).
Os líderes do PT no Senado, José Eduardo Dutra (SE), e na Câmara, Sandra Starling (MG), chegaram a fazer uma reunião com o presidente do PMDB, Paes de Andrade (CE), mas recuaram ao avaliar que não conseguiriam as assinaturas que faltam no Senado para iniciar as investigações.
O partido já havia conseguido as 171 assinaturas necessárias na Câmara, mas não conseguiu passar das 24 no Senado (três a menos que o necessário).
Auditores
A nova versão da MP (medida provisória) que amplia os poderes do BC sobre o sistema financeiro vai prever a responsabilização de contadores e auditores em balanços que encubram operações fraudulentas.
A alteração foi acertada ontem pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), em reunião com o relator da MP, o senador Kleinubing.
Malan aceitou também incluir, na reedição, o envio mensal ao Senado de informações sobre empréstimos feitos dentro do Proer.

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sobre sistema financeiro na página 2-3

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