São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Dirigentes choram lágrimas de crocodilo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A fuga de Arílson da seleção andou dividindo as manchetes esportivas com o caso Bosman, o obscuro belga que, nos tribunais, promoveu a mais "clean" e civilizada revolução da história: livrou o jogador de futebol da secular escravidão a que estava subjugado, sem derramar nem uma gota de sangue sequer.
Arrancou, sim, lágrimas de crocodilo de cartolas como Havelange, que, por não ser napolitano mas belga de origem, como Bosman, filia-se à nobre família Lampedusa apenas na ação e no pensamento, como dizia o poetinha.
Claro que tão profunda transformação nas relações trabalhistas entre jogadores de futebol e clubes europeus haverá de provocar abalos e desequilíbrios.
Mas, a exemplo do que escreveu ontem aqui o Matinas, serão sempre males menores. Desconfio mesmo que bem menores do que se supõe.
Explico: a tendência no futebol hoje em dia é mais ou menos comparável à que se delineou nos fins dos anos 60 em Hollywood, quando os grandes estúdios de produção de cinema perderam o direito de exibição, por força da lei antitruste.
Hollywood, depois de prantear sua extinção, rapidamente reciclou-se, reduziu seus custos, aliou-se à TV, até então inimiga mortal, agilizou-se e deu a volta por cima.
O futebol, como o cinema e a TV, é uma macroindústria de entretenimento, que só agora começa a descobrir as imensas e múltiplas formas de faturamento, por meio de patrocínios, publicidade em placas dos estádios e tantos outros veios a serem abertos nesse campo ainda virgem.
Na verdade, há algum tempo os clubes vêm deixando de ser os verdadeiros proprietários dos passes dos jogadores, com a entrada no mercado dos chamados empresários, que compram os atestados liberatórios (êta nominho safado) para alugá-los a esta ou àquela agremiação. Assim, na prática, com exceção dos grandes clubes europeus, já houve uma transferência de poder.
Só que para os empresários que rondam as federações, a CBF e a Fifa com ares de parceiros. Agora, completa-se o processo, com o envio do passe aos seus verdadeiros e legítimos donos -os jogadores de futebol.
Mas o que tem Arílson com essa história? À primeira vista, pode-se julgar que ele simplesmente optou pelo inalienável direito de ir e vir. Veio, não gostou, voltou. Ah, sim? E o resto da turma?
No caso, houve mesmo é quebra de contrato unilateral entre o jogador e a CBF, além de total desprezo pelo senso de solidariedade aos companheiros.
Isso não é exercício de liberdade, mas pura irresponsabilidade.
*
Um acinte, a decisão do tribunal da federação em considerar mero "chega pra lá" a agressão de Edmundo em Sandro, no clássico da Vila Belmiro.
A questão era saber se foi com a mão direita, como relata o juiz, ou com a mão esquerda, como prova o VT.
Simplesmente, foi.

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