São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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"A Rosa Negra do Harlem" se afunda em clichês e preconceitos

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"A Rosa Negra do Harlem" prova que, mesmo sem estar com a câmera nas mãos, o cineasta americano Roger Corman tem um toque de Midas invertido. Tudo o que ele toca vira B. Ele é o produtor executivo do filme.
Se por vezes Corman conseguiu o milagre de fazer cinema com pouca verba, dessa feita a mágica não se repetiu. E, ao contrário de produções anteriores, a queda no orçamento não foi compensada com um superávit de qualidade.
E o pior é que o grosso do orçamento deve ter sido gasto em cigarros, para enfumaçar e dar um ar cult ao ambiente, e em groselha, para manchar as camisas furadas pelos diversos tiroteios da trama.
O roteiro do filme, na forma como foi apresentado, renderia no máximo um bom curta de 15 minutos. Mas o diretor Fred Gallo tinha mais 65 minutos de película e resolveu usá-los.
Georgia -a rosa negra do título- é a cantora em uma boate do Harlem em 1931. Um belo dia, mafiosos resolvem vender proteção para os negros donos da casa. Estes não aceitam e são devidamente aniquilados. Uma nova sociedade, que inclui Georgia, é formada e a casa, reerguida.
Um dos mafiosos (Nick Cassavetes) se apaixona por Georgia ao mesmo tempo em que é cortejado pela filha do "capo" mafioso.
Montado o quadro, o que se sucede é um amontoado de clichês e preconceitos tratados de forma superficial, lacônica, confusa.
A relação inter-racial entre o mafioso e a cantora, o conflito entre os criminosos que tentam burlar criminosos, os meandros da "família" mafiosa.
Quem espera poder se escorar no elenco para tirar proveito do filme vai se decepcionar. Poucas vezes se viu tanta canastrice estereotipada junta.
O "bad boy" do bando mafioso fica o tempo todo com aquela cara de quem atiraria no cadáver da própria mãe. O negro bonzinho e sócio na boate mantém a mesma expressão de garçom durante tiroteios ou shows na casa. Mas o triste mesmo é ver Cynda Williams -a cantora- cometer talvez o maior fiasco de sua carreira.
Ela, que fez uma esplendorosa e sensual cantora quando dirigida por Spike Lee em "Mais e Melhores Blues", não consegue repetir a mesma performance. E isso mesmo tendo sido muito mais generosa na exposição de carnes.
Dublar as músicas no tempo errado foi o menor dos seus pecados em "Rosa Negra".
Apesar do final apoteótico e surpreendente, o filme não diz a que veio. Não é sério, não é thrash, não é cult, não é nada.

Vídeo: "A Rosa Negra do Harlem" (The Black Rose of Harlem, EUA, 1995)
Direção: Fred Gallo
Elenco: Cynda Williams, Nick Cassavetes e Joe Viterelli
Distribuição: PlayArte (tel. 011/575-6996)

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