São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Diplomacia em excesso

Depois de fechar o Congresso de seu país e intervir no Judiciário em abril de 1992, o presidente do Peru, Alberto Fujimori, foi reeleito no ano passado. Ainda que o bom desempenho da economia tenha de fato contribuído para a popularidade do presidente peruano, é inegável que sua reeleição ocorreu em meio a restrições à liberdade de expressão e de organização.
É compreensível que o presidente Fernando Henrique Cardoso receba pessoalmente o presidente do Peru, pois estão envolvidas questões diplomáticas de interesse do Brasil. Mas daí a referir-se à democracia como se fosse uma qualidade igualmente presente em ambos os países e a falar em "integração ao mercado das massas antes dele excluídas", sendo que a proporção de pobres aumentou brutalmente durante o governo Fujimori, vai uma grande distância.
Existem hoje no Peru jornalistas presos sob a acusação política de "apologia do terrorismo" e houve várias acusações de que, em meio ao combate ao grupo terrorista Sendero Luminoso, o exército peruano teria feito uma "guerra suja" contra oposicionistas não ligados a esse grupo ou a ações violentas.
Em 1994 foram condenados dez militares pelo sequestro e assassinato de nove estudantes e de um professor da Universidade de La Cantuta em julho de 1992. Ainda antes da condenação, o processo causou a renúncia do premiê Alfonso Bustamante, pois Fujimori transferiu o processo da Justiça Civil para uma corte militar.
Os deveres diplomáticos não permitiriam que o presidente Fernando Henrique deixasse de receber Fujimori, como fizeram o presidente do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, e o presidentes do Congresso, José Sarney, e da Câmara, Luís Eduardo Magalhães. Ainda assim, fica a impressão de que o Executivo agiu com demasiado "excesso de diplomacia".

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