São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Desemprego programado

A constatação de que 46% das indústrias paulistas pretendem demitir funcionários neste primeiro semestre do ano, segundo pesquisa da Fiesp, corrobora ao mesmo tempo a noção de desemprego "estrutural" e a evidência de que a redução no ritmo de crescimento econômico acirra as demissões.
Das empresas consultadas, 74% afirmaram que estão adotando novas estratégias produtivas visando à redução da mão-de-obra empregada. É a tradução, em nível empresarial, do desemprego tecnológico. De outro lado, as altas taxas de juros têm desestimulado a produção e o consumo. Mais moderado, o crescimento da economia deixou de contrabalançar o efeito das inovações tecnológicas.
Como não faz sentido opor-se ao desenvolvimento tecnológico, as possibilidades de pelo menos atenuar seus efeitos perversos sobre o emprego estão na redução da taxa de juros e na desoneração da folha de pagamentos.
Se a segunda iniciativa demanda, para ser abrangente, a viabilização de outras formas de custear a Previdência, a primeira não só depende apenas de decisão do Banco Central como ajudaria o próprio governo federal a combater o déficit fiscal, que é hoje uma das principais ameaças à estabilização.
A rota descendente da inflação torna ainda menos justificável a lentidão na queda das taxas financeiras. A imposição de restrições à entrada de capitais mostra, ademais, que os juros estão acima do necessário para financiar o balanço de pagamentos em conta corrente.
Ao que parece, o discurso oficial de preocupação com o desemprego continua a ser ignorado por parte dos principais condutores da política econômica.

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