São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Grupos de índios isolados chegam a 60

ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 60 grupos de índios ainda não fizeram contato direto com a civilização e vivem totalmente isolados em florestas e campos das regiões Norte e Nordeste (veja quadro abaixo).
A Funai (Fundação Nacional do Índio) concluiu que a melhor forma de protegê-los é deixá-los longe da civilização.
Só estão sendo procurados os grupos sujeitos a agressões de fazendeiros e madeireiros.
Foram organizadas 15 frentes de aproximação, com o objetivo de tentar o contato com índios isolados que sofram ameaças.
Os que são considerados a salvo das ameaças são monitorados à distância. O contato é evitado.
Não se sabe o número exato de índios isolados. Os vestígios revelam a existência de grupos numerosos, com centenas de indivíduos.
Outros grupos limitam-se ao núcleo familiar: pais e filhos. Alguns relatos indicam grupos de cinco ou dez indivíduos.
É o caso de um grupo avá-canoeiro que perambula por Goiás. Seus membros vivem numa região 300 quilômetros ao norte de Brasília e já foram vistos em uma fazenda de Unaí (MG), perto do local onde o presidente Fernando Henrique Cardoso tem uma propriedade.
Como estratégia para escapar do contato com a civilização, os grupos normalmente adotam a vida nômade.
Em função disso, sua localização pode levar dez anos -das primeiras informações até o estabelecimento do contato.
Vestígios
Hoje, a Funai tenta se aproximar de um grupo de índios tupi-guaranis que habita as florestas de Rondônia.
O levantamento do território ocupado por esses índios começou a ser feito há sete anos. Os sertanistas conseguiram vê-los só duas vezes.
A etnia e os hábitos do grupo são definidos por vestígios achados pela expedição -utensílios de trabalho, organização das malocas etc.
O trabalho é minucioso. Uma das técnicas para se descobrir um pouco da tribo é o estudo dos ossos de animais abandonados pelos índios. A análise dos ossos indica o hábito alimentar do grupo.
Armadilhas
O sertanista Marcelo Santos, da Funai em Rondônia, diz que as trilhas que rodeiam as malocas são cheias de armadilhas.
'Graças a Deus, eles (os tupis de Rondônia) não conhecem os venenos", afirma Santos.
Quando percebem a passagem dos sertanistas, os índios enterram varetas pontiagudas em buracos. "Todos já se machucaram", conta o sertanista.
Na mochila, os sertanistas levam arroz, macarrão, sal, fósforos, café, linhas de pesca, arma e munição. "As armas são por causa dos animais", diz Santos.
Os vestígios em Rondônia são suficientes para que a Funai peça ao Ministério da Justiça a transformação da área em reserva. O pedido da criação da reserva do Guaporé está sendo estudado.

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