São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Patrocínio privilegia quantidade

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE; MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

A distribuição de verbas publicitárias para os pilotos brasileiros que competirão em categorias no exterior este ano obedeceu a uma nova estratégia de marketing, a qual soma investimentos em nomes consagrados a apostas em jovens desconhecidos.
Numa adaptação da lei de Lavoisier, que cunhou o preceito "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma", os mesmos recursos que antes eram empregados unicamente em pilotos de ponta hoje são pulverizados entre mais de três dezenas de representantes do Brasil nas pistas internacionais.
A tática inclui duas etapas. Num primeiro momento, os pilotos já consagrados, que correm principalmente na Indy e na Fórmula 1, garantem retorno imediato a seus patrocinadores. Só a Philip Morris latino-americana espera faturar US$ 3,00 para cada US$ 1,00 investido este ano em brasileiros na Indy, Indy Lights e F-1.
O segundo passo é a aposta no "efeito Banco Nacional", ou seja, obter um contrato de patrocínio semelhante ao que o extinto banco possuía com Ayrton Senna.
"A intenção de todos é retomar a bandeira que se tinha com o Senna", afirmou Reginaldo Ferrante, da agência publicitária Fischer,Justus. O Nacional apostou no tricampeão da F-1 desde o início de sua carreira na categoria, quando Senna nada mais era que uma promessa. Deu certo.
Quando a promessa se concretizou, o nome do banco já era quase uma marca pessoal do piloto.
Com o detalhe de que, pela antiguidade do relacionamento com Senna, a entidade financeira pagava um preço baixo -se comparado ao retorno que obtinha- para estampar seu nome no boné do piloto, cerca de US$ 5 milhões anuais. Só como comparação, o salário do brasileiro na Williams era estimado em US$ 20 milhões.
A aposta agora não é no surgimento de um novo Senna, mas na reedição de uma estratégia de marketing vencedora -a qual, ironicamente, não salvou o banco da extinção, pouco mais de um ano após a morte do piloto.
Claro, os patrocinadores de hoje não esperam ter a sorte que o Nacional teve e, por isso, em vez de aplicar todo o montante disponível num só piloto, dividem-no entre vários deles. A esperança é a de que um venha a se tornar campeão.
Aí, sim, o antigo patrocinador firmará com o novo herói nacional um contrato vantajoso, enquanto que quem apostou em outros brasileiros vai precisar correr atrás do prejuízo.
(JHM e MT)

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