São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Luz nega influência de movimentos civis

DA SUCURSAL DO RIO

O chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Luz, disse que a taxa de homicídios na cidade vem caindo principalmente devido à ação de um maior número de policiais nas ruas.
Para o delegado, não teve importância para a redução dos homicídios uma suposta influência de movimentos como o Viva Rio na mobilização da sociedade. "Isso não afeta em nada", diz.
Jaqueline Muniz, antropóloga do Iser (Instituto de Estudos da Religião), discorda de Luz e ressalta a importância do surgimento dos movimentos civis, como o Viva Rio e o Rio Contra O Crime.
Em sua análise, esses movimentos passaram a exercer um controle externo das instituições policiais.
"Antes não havia policiamento nas ruas. Agora há", disse Luz, para sustentar sua opinião.
Segundo ele, policiais militares foram retirados do serviço burocrático e mais civis passaram a atuar fora das delegacias, em investigações criminais.
Outra iniciativa que ajudou na diminuição dos homicídios, acrescenta ele, foi a política do atual governo de restringir a concessão de portes de arma. "No ano passado, só foram expedidos 40 portes de arma", disse.
Para a antropóloga, um maior número de policiais nas ruas não tem um impacto direto na redução de homicídios, mas pode se refletir diretamente em crimes como roubos e furtos.
O delegado insiste em que a atuação mais eficaz da polícia é que justifica a diminuição dos homicídios.
Ele dá o exemplo da repressão policial aos sequestros, que em geral são praticados por traficantes de drogas em favelas.
Com a maior repressão, Luz afirma que alguns traficantes resolveram sair do Estado do Rio por algum tempo, esperando um melhor momento para voltar. Isto também ajudou, segundo ele, na redução dos homicídios.
Luz afirma já existirem informações sobre os Estados em que esses traficantes teriam se refugiado. Mas diz não poder dar maiores informações, para não atrapalhar as investigações.
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Violência do Iser, há quatro anos Jaqueline analisa dados sobre as diversas formas de criminalidade no Rio.
Segundo ela, pela própria dinâmica dos homicídios, é insustentável afirmar que o aumento de policiais nas ruas contribui para diminuir o número de homicídios.
"Para cada tipo de delito, deve-se pensar na atuação policial. O homicídio requer uma ação investigativa", afirma.
Segundo Jaqueline, o que tem ocorrido no Rio é uma diversificação na forma de atuação das policias Civil e Militar, melhorando as fontes de informação.
Hoje, de acordo com a antropóloga, as duas polícias trabalham com informações mais confiáveis, criando uma "polícia inteligente".
"Tanto a polícia Civil como a Militar adotaram métodos para reduzir custos e maximizar benefícios, independentemente do governo que esteja no comando. As informações são melhores; a qualificação dos crimes e as áreas onde estes ocorrem também são mais confiáveis, melhorando a atuação policial", destaca.
Ela diz acreditar que o debate em torno da violência teve efeito bastante positivo, pois democratizou a discussão sobre o tema, tirando-a dos gabinetes dos governantes.
"Hoje, há uma conscientização maior da população de que a polícia deve servir à sociedade e não ao Estado", diz.
Iniciativas da sociedade civil organizada voltadas para a capacitação policial também contribuem para o melhor desempenho das polícias cariocas, aponta Jaqueline.
Ela cita, como exemplo, a criação pela Polícia Militar do policial comunitário, que atua em vários bairros da cidade como elo de ligação entre força policial e sociedade.
"A capacitação policial, a transparência nas informações -hoje bem mais confiáveis- e as parcerias entre a polícia e a sociedade são somatórios que resultam numa diminuição da criminalidade", diz.
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, general Nilton Cerqueira, afirma que desde que assumiu o posto aumentaram as punições aos policiais infratores.
Segundo o relatório da Corregedoria de Polícia Civil, as punições atribuídas a delegados de polícia, nos últimos três meses, superam os índices dos últimos 20 anos.
Desde novembro passado, foram concluídas 236 sindicâncias sumárias, que apuraram irregularidades no trabalho de policiais civis, e encaminhas 71 sindicâncias para inquérito administrativo.

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