São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Salários sobem 14,1% acima da inflação

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Em um ano e meio de Plano Real, lançado em julho de 94, os salários que sobreviveram ao desemprego ganharam 14,13% sobre a inflação, pelo menos na Grande São Paulo.
Essa conclusão pode ser extraída da pesquisa Seade-Dieese, convênio insuspeito que, na semana passada, divulgou que houve perdas no mesmo período, com base no rendimento real médio trimestral.
Não se trata, obviamente, de manipulação. A conclusão vira de ponta-cabeça com a simples substituição do índice de custo de vida utilizado no cômputo do salário real (nominal versus inflação).
A pesquisa usa, em seus cálculos, o ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese, justamente um referencial cuja taxa acumulada em 18 meses é quase o dobro das demais.
A taxa acumulada do IPC da Fipe ficou em 45,70% no mesmo período. O INPC, em 46,14%.
O próprio diretor-técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, concorda que, usando-se outro índice, apura-se ganho, e não perda.
O ICV do Dieese, diz ele, está de fato distorcido. Por isso mesmo, está sendo concluída uma nova POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), que atualizará o índice.
Pobres ganham mais
Mendonça só faz um reparo na conclusão de que os salários ganharam da inflação até dezembro de 95. É a velha questão da média. Alguns estão abaixo e outros acima dela. Se uma empresa demite mais pessoas que ganham menos, a média salarial tende a subir.
O rendimento nominal dos assalariados cresceu 66,29%, nada menos do que 14,13% acima do IPC da Fipe. O dos não-assalariados (empregadores, ambulantes, empregados domésticos, profissionais liberais etc.) avançou 111,43%, segundo cálculos da Folha.
Foram os mais pobres, afirma Mendonça, que ganharam mais com a queda da inflação. Para se chegar a essa conclusão é até desnecessário trocar o ICV do Dieese pelo IPC da Fipe ou outro índice.
A última pesquisa do Seade-Dieese mostra que, entre os ocupados na Grande São Paulo, de dezembro de 94 a dezembro de 95 o rendimento real trimestral dos 10% mais pobres cresceu 18,2%, e o dos 25% mais pobres, 6,9%.
Apenas entre os assalariados, houve ganho real de 13,8% dos 10% mais pobres no mesmo período, com perda para os demais. Os resultados para salários mais altos, entretanto, deverão ser bem diferentes quando o cálculo for refeito.

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