São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Reajustes nas empresas vão além do IPC-r

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Se nos primeiros 18 meses de Plano Real os salários não perderam da inflação, o que vai acontecer daqui para a frente, sem qualquer lei que garanta reajuste integral?
Até agora, pelo menos, são raríssimos os casos em que, na data-base, os acordos sindicais não têm reposto a inflação passada, afirma Wilson Amorim, coordenador de linhas setoriais do Dieese.
"Zerar a inflação é ponto de partida e, do ponto de vista sindical, nem sequer é item a ser negociado", afirma Amorim.
Desde julho de 95, a lei obriga que os salários sejam corrigidos na data-base apenas pelo resíduo do IPC-r, ou seja, pela inflação medida até junho de 95. Qualquer coisa acima disso deve ser negociado.
A consultoria Arthur Andersen, que pesquisa antecipações salariais em grandes empresas no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, também vem constatando que a inflação continua sendo "zerada" na data-base, segundo Rosângela Lazari, gerente da divisão de consultoria de recursos humanos.
Ganho variável
Em janeiro passado, a pesquisa da Arthur Andersen registrou "reaquecimento" inclusive da prática de antecipações salariais, ou seja, reajustes passíveis de desconto na data-base.
O que se observa também, afirma Rosângela, é a adoção de outras formas de remuneração variável, como programas de incentivo e concessão de bônus.
Com inflação mais baixa, diz Amorim, as empresas dão maior atenção a seus custos e resistem em conceder aumentos reais.
As negociações sobre participação nos lucros têm avançado, embora a maioria das empresas ainda opte por um valor fixo. "Mas é um espaço novo e diferente de negociação. A tendência é acumular experiências", diz ele.
Mas, se os salários não sentem o desabrigo da indexação, porque a sensação de perda com o real, observada mais na classe média?
A gerente da Arthur Andersen, por mero "feeling", cita a influência da cultura inflacionária. Havia a sensação ilusória de ganho com um reajuste de 30%. As pessoas ainda não se apercebem que 2% hoje são mais que 30% antes.
Sérgio Mendonça, do Dieese, lembra que escola, saúde etc., o que mais subiu após o Real, pesa mais na classe média.
(GJC)

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