São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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"O Olhar de Ulisses"

"O Olhar de Ulisses"
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
Falo de

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Falo de "O Olhar de Ulisses", um filme belo, racional e surrealista, do diretor Théo Anghelopulos, que ganhou o Festival de Cannes em 1995.
No filme, Harvey Keitel, tal como Ulisses, faz sua jornada: pelas terras da Bulgária e ex-Iugoslávia e revê o desastres nos Balcans. No final, toda a beleza da cultura da região não pode mais ser vista porque desce uma bruma espessa sobre a destruída Sarajevo.
Essas metáforas me vêm à mente ao escrever sobre o protecionismo comercial, cujo debate recomeçou nos Estados Unidos e ecoa no Brasil.
Os EUA estão entrando em uma nova fase de isolacionismo político-cultural. Atenção: isolacionismo político, mas não econômico, porque não é possível voltar atrás na abertura da economia americana.
No discurso político, proteger a indústria americana da competição desleal dos adversários perpassa as falas de Clinton a Perot e Buchanan, mas é retórica vazia. O interesse da maioria da sociedade americana está na expansão de empregos resultante do comércio.
Se o protecionismo fosse adotado lá, haveria uma recessão mundial, tal como nos anos 30, o que reduziria as exportações e aumentaria o desemprego. O contrário do desejado.
Há benefícios importantes da internacionalização da economia, mas quais? São os seguintes: quem prefere tomar um remédio velho e ineficaz para câncer ou Aids, se puder comprar um remédio mais eficaz, embora importado?
Quem prefere visitar Taquarituba, no Acre, pelo mesmo preço de uma viagem para Roma? Por que não vender eletroeletrônicos e autopeças "made in Brazil" em troca de bens que são difíceis de se produzir aqui aos preços do mercado internacional?
Comércio internacional em expansão cria empregos, o que era bem conhecido no Brasil de 1860 a 1930, quando as exportações de café ajudaram a formar o capital que levou ao desenvolvimento da indústria.
Agora estamos em uma nova fase de abertura e integração da economia brasileira com o mercado mundial. Temos mais a ganhar do que a perder. Que as brumas de Sarajevo não venham até aqui bloquear a nossa visão.
PS - Tal como esta coluna já apontou muitas vezes, quanta bobagem já se fez sob o manto protetor do BC. E agora José?

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